A Revista do Expresso

Longtermism, a filosofia discreta (com princípios discutíveis) que está a ganhar terreno nos centros de decisão do mundo

15 outubro 2022 21:54

Diogo Queiroz de Andrade

rob atkins/getty images

O futuro da Humanidade joga-se na discussão de ideias e a batalha pelo amanhã já começou. Segundo o longtermism, a prevenção de catástrofes que extingam a Humanidade é prioritária - mais do que o combate à fome, por exemplo. Uma inteligência artificial que se rebele contra os humanos é vista como possível

15 outubro 2022 21:54

Diogo Queiroz de Andrade

A ascensão do fascismo e do comunismo mostraram, no último século, os perigos das ideias transformadas em prática política. Vale a pena manter presente esses exemplos quando se dá a conhecer uma nova filosofia que se quer consubstanciar em ideologia e que está a fazer caminho por entre os poderosos deste mundo. Conhece-se pelo nome inglês de longtermism, é tão recente que ainda nem tem tradução corrente em português, e inclui uma amálgama de postulados morais, extrapolações vagas sobre o futuro da Humanidade e uma grandiloquência digna da ficção científica. De forma simplificada, o longtermism consiste na crença de que a Humanidade deve dar prioridade ao futuro de longo prazo. A ideia parece consensual e fácil de aceitar, mas o demónio está nos detalhes — e é isso que se pormenoriza nas linhas que se seguem.

Aquilo que os principais proponentes do longtermism defendem é que, dado o imenso número de humanos por nascer, a prioridade moral do investimento deve ser concentrada na melhoria da vida desses humanos do futuro. E isso implica que se desvalorize a importância dos problemas atuais para que nos possamos concentrar devidamente nas questões que podem pôr em causa a sobrevivência da Humanidade. Ou seja, que os recursos disponíveis devem ser reorientados para, por exemplo, acelerar a expansão espacial em vez de acabar com a fome no mundo ou com doenças que afetam maioritariamente os países em desenvolvimento. Benjamin Todd, um assumido proponente do ideário longtermista que gere a publicação “80.000 Hours”, explica assim a ambição do movimento: “Uma vez que o futuro é imenso, poderá haver muito mais pessoas no futuro do que na geração atual. Isto significa que se quisermos ajudar as pessoas em geral, a principal preocupação não deve ser ajudar a geração presente, mas assegurar que o futuro corre bem a longo prazo.”

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