A Revista do Expresso

Kompromat à portuguesa: sexo e espionagem na embaixada de Praga

11 setembro 2022 22:30

Paulo Anunciação

Paulo Anunciação

Correspondente em Londres

No final da década de 80, em plena Guerra Fria, uma jovem agente dos serviços secretos da República Socialista da Checoslováquia tinha uma missão muito específica: ir para a cama com funcionários diplomáticos portugueses

11 setembro 2022 22:30

Paulo Anunciação

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Correspondente em Londres

No inverno de 1986, uma mulher estranhamente alta e loura, de 22 anos, chamou a atenção dos bufos da StB, a polícia secreta da Checoslováquia. A mulher chamava-se Renáta Adamová e era estudante de Pedagogia na Universidade Carolina de Praga, a mais famosa do país. Ela era, também, cliente habitual do bar panorâmico do Hotel Internacional — um mastodonte estalinista de 16 andares, construído em 1956, frequentado por homens de negócios ocidentais e pela cúpula comunista que governava a República Socialista da Checoslováquia desde 1948. Os olheiros da StB notaram a fluência com que Renáta falava inglês. E a forma, fácil, como ela se relacionava com os ocidentais. Eles eram, na sua maioria, homens alemães bem mais velhos do que ela e que estavam de passagem, breve, por Praga. As noites no bar panorâmico envolviam muitos copos de vodca, muita risada em voz alta, uma ou outra canção. Muitas vezes Renáta acabava a noite num dos quartos do Hotel Internacional.

Em janeiro de 1986, ela foi requisitada para uma conversa com os oficiais da StB. Era uma espécie de entrevista de emprego. Os homens da StB tinham feito o trabalho de casa. Sabiam quase tudo sobre a estudante, a família dela, as rotinas diárias e as aventuras noturnas. Ela gostava de ginástica e de discotecas. Sabiam que vivia sozinha no apartamento que o pai tinha em Praga. Pediram a Renáta para fazer uma lista de todos os homens (e respetivas nacionalidades) com quem tinha dormido. Ela respondeu que não se lembrava de todos os nomes, mas eram quase todos estrangeiros: Gary, um norte-americano; Manuel, um diplomata do Peru; Hichmi, um libanês que visitava Praga com enorme regularidade, de três em três meses, para comprar armas; e a lista continuava. Os agentes da StB foram diretos ao assunto: queriam saber se ela poderia ir para a cama com um certo estrangeiro. Seria um serviço patriótico, em prol da nação socialista. Ela aceitou (impôs uma única condição: que o homem não fosse de outra raça).

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