10 setembro 2022 23:35

Na Gulbenkian, CCB e São Carlos, o jovem barítono André Baleiro distinguiu-se como um dos melhores cantores da temporada 2021/22
10 setembro 2022 23:35
Não há músicos na família. André Baleiro, nascido em Lisboa em 1989, emergiu inteiro quando aos 8 anos pediu aos pais para estudar música — o que aconteceu na Escola Básica nº 24 do Bairro de São Miguel por obra de Teresa Lancastre, também professora do Instituto Gregoriano de Lisboa. À parte o desvio pelo primeiro ano do curso de Física Tecnológica no Instituto Superior Técnico, nunca mais parou. Pergunto-lhe se houve oposição paternal, e a resposta é pronta: “Não, os meus pais sempre me encorajaram. Só quando decidi trocar o Técnico pela Escola Superior de Música é que resistiram um pouco, inicialmente, mas nunca deixaram de me apoiar em tudo.” Hoje devem sentir-se orgulhosos dos progressos do filho. Em 2016 venceu o prestigiado concurso Robert Schumann, em Zwickau — onde o compositor nasceu em 1810 —, e no ano seguinte ganhou o prémio para o intérprete mais promissor em Das Lied, o Concurso Internacional da Canção, em Heidelberg.
Creio que o ouvi pela primeira vez ao vivo em janeiro de 2018 no Teatro de São João, no Porto, no papel de Tarquinius, Príncipe de Roma, em “The Rape of Lucretia” (1946), de Britten, na rigorosa encenação de Luís Miguel Cintra; no outono do mesmo ano foi a vez de o admirar no CCB a cantar o Joseph de “L’enfance du Christ” (1854), de Berlioz. Na passada temporada tive a oportunidade de o aplaudir entusiasticamente no “Requiem” (1900), de Fauré, e na “Paixão Segundo São João” (1724), de J. S. Bach, ambos na Gulbenkian, no “Faust” (1859), de Gounod, no São Carlos, e no protagonista de “Orphée” (1993), de Glass, no CCB, onde foi o único cantor a distinguir-se no meio da malfadada produção. A voz de barítono lírico continua bela e flexível, a inteligência interpretativa insinua-se subtilmente — como convém a um laureado cantor de Lieder —, e a postura e domínio do palco são agora impecáveis. Sente-se que está de bem com a sua voz (que vai crescendo) e que lhe conhece os limites, sem nunca ter de a forçar. Numa palavra, exemplar!