2 setembro 2022 16:29

davide bellucca
É a partir da Amazónia que o antigo braço-direito do secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan fala ao Expresso sobre um mundo em mudança.
2 setembro 2022 16:29
A cadeira de Introdução ao Pensamento, de Carlos Lopes, já completou um ano na Universidade de Bissau. É o tipo de reconhecimento que o economista guineense “esperaria vir a ter mais tarde” considerando-o “uma indicação do apetite dos jovens africanos” por conhecimento. Alto-comissário da União Africana (UA) para as relações com a União Europeia (UE), foi braço-direito do secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan e secretário-executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para África. É professor da Escola de Governação Pública Nelson Mandela da Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul, onde vive, conselheiro de instituições, presidentes e governos e autor de extensa obra. O livro que escreveu há dois anos com o zimbabuense George Kararach “Mudança Estrutural em África” é lançado agora em tradução portuguesa. Trata das obsessões reflexivas fundamentais de uma das vozes globais com mais vitalidade na criação de pensamento sobre o continente do futuro: África, perceções deturpadas, novas narrativas e desenvolvimento no século XXI.
Num dos capítulos de “Mudança Estrutural em África” fala do entusiasmo temporário dos africanos com o bom desempenho económico do continente e os sintomas de declínio. Dois anos depois da pandemia, em plena inflação e perante a dificuldade de acesso de África aos cereais, não poria hoje a emergência climática em primeiro lugar?
É evidente que, nos últimos dois anos, assistimos a uma aceleração de alguns dos prognósticos que estão incluídos no livro. Será que os africanos devem mudar aquilo que deve ser a sua resposta? Acho que não. A resposta continua a ser olhar o continente como estando ainda dentro de uma espécie de armadilha colonial, ser completamente dependente das exportações de matérias-primas sem transformação. E os fenómenos climáticos não mudam essa armadilha. Eles até podem oferecer algumas oportunidades que estão descritas no livro, como a industrialização verde, e como fazer uma transformação agrícola mais amiga do ambiente, mas não muda nada de essencial. Não se permitiu aos países africanos fazerem as transformações macroeconómicas necessárias para a sua transformação estrutural e a inflação mostra isso. Expõe os africanos mais do que os outros, porque têm menos instrumentos à sua disposição, nomeadamente em matéria de política monetária. A questão dos alimentos é mais uma vez uma demonstração de que não demos atenção suficiente à transformação agrícola que permitiria aumentar o rendimento por hectare em África e, sobretudo, poder fazê-lo com uma pegada de carbono menos significativa do que a dos grandes produtores do mundo. Temos a maior reserva de terras aráveis não utilizadas, temos uma utilização muito baixa da irrigação, etc. No essencial, não temos de mudar os prognósticos.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.