Revista de imprensa

Ana Benavente: “Ainda bem que saí do PS, porque teria vergonha”

Ana Benavente, no 10ª Congresso regional do PS, em 2001
Ana Benavente, no 10ª Congresso regional do PS, em 2001
HOMEM DE GOUVEIA / LUSA

Não concorda com as políticas do PS “desde o Sócrates”. Adiou a saída do partido porque António José Seguro lhe dizia que a situação ia “mudar". Mas "não mudou”. Em entrevista ao Público, Ana Benavente conta que quanto António Costa chegou ao poder entregou o cartão de militante ao porteiro do Largo do Rato

“O que aconteceu com o Governo de António Costa… ainda bem que eu saí do PS, porque teria vergonha”, afirma Ana Benavente, ex-secretária de Estado da Educação de António Guterres, numa entrevista ao Público em que relata o seu processo de afastamento do partido.

Aderiu ao Partido Socialista em 1993 pela mão de António Barreto, seduzida pelos Estados Gerais com que António Guterres preparou a chegada ao poder em 1995. E diz que gostou muito da experiência do Governo de Guterres: “Não tenho nada a dizer. Tínhamos divergências politicas, nomeadamente em questões sociais, como o aborto, mas ele tinha confiança nas pessoas com quem trabalhava. Nunca por nunca posso dizer que houve alguma coisa que correu mal".

Tudo começou a correr pior quando António Guterres chamou Augusto Santos Silva para ministro da Educação: “Fui falar com Guterres e disse-lhe que queria sair”. E a partir daí foi sempre a piorar: “Eu não concordo com as políticas do PS desde o Sócrates”, diz, “afastei-me com Sócrates”. E só não saiu nessa altura porque António José Seguro lhe ia dizendo para esperar.

“De cada vez que eu queria entregar o cartão, o António José Seguro mandava-me para casa: ‘Espera, espera, que isto vai mudar.’ Não mudou. Foi António Costa que se apresentou contra Seguro e entregar o cartão foi das coisas mais certas que fiz", relata. Entregou-o a um porteiro da sede nacional do partido, no Largo do Rato.

Benavente é muito crítica do rumo seguido pelas políticas de Educação nos Governos socialistas: o que Maria de Lurdes Rodrigues fez no consulado de Sócrates “foi dramático”; Tiago Brandão Rodrigues, ministro com Costa, “sabia zero" e “não tinha qualquer projeto”, pelo que "as coisas começam-se a estragar” . A ex-governante diz “não concordar com nada da política atual”.

“Tenho tentado não intervir muito na Educação para salvaguardar a minha saúde mental”, assume. Considerando que “aquilo a que se foi assistindo, com grande responsabilidade do PSD mas também muita do PS, nomeadamente nestes últimos Governos, é terrível”.

Nas últimas eleições, votou Bloco de Esquerda e diz “começar a sentir muito a necessidade outra vez de um movimento de cidadãos democratas que não se identificam nem com esta política do PS nem com o PSD”, partido que diz ser “um vazio assustador”.

“Sinto muito a necessidade de um movimento novo e estou disponível para isso”. Aos 77 anos, Ana Benavente conta como detestou ser deputada: “Durante as campanhas eleitorais (feitura das listas), quando eu entrava numa sala, eles calavam-se, estavam sempre a tratar de negócios em que eu não entrava. Eu era sempre a n.º 2, era a ”quota". De um modo geral, diz que no Parlamento “se trabalhava mal. Vivia-se muito para o espetáculo, os bons deputados eram os que faziam aquelas risotas …”.

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