“O que aconteceu com o Governo de António Costa… ainda bem que eu saí do PS, porque teria vergonha”, afirma Ana Benavente, ex-secretária de Estado da Educação de António Guterres, numa entrevista ao Público em que relata o seu processo de afastamento do partido.
Aderiu ao Partido Socialista em 1993 pela mão de António Barreto, seduzida pelos Estados Gerais com que António Guterres preparou a chegada ao poder em 1995. E diz que gostou muito da experiência do Governo de Guterres: “Não tenho nada a dizer. Tínhamos divergências politicas, nomeadamente em questões sociais, como o aborto, mas ele tinha confiança nas pessoas com quem trabalhava. Nunca por nunca posso dizer que houve alguma coisa que correu mal".
Tudo começou a correr pior quando António Guterres chamou Augusto Santos Silva para ministro da Educação: “Fui falar com Guterres e disse-lhe que queria sair”. E a partir daí foi sempre a piorar: “Eu não concordo com as políticas do PS desde o Sócrates”, diz, “afastei-me com Sócrates”. E só não saiu nessa altura porque António José Seguro lhe ia dizendo para esperar.
“De cada vez que eu queria entregar o cartão, o António José Seguro mandava-me para casa: ‘Espera, espera, que isto vai mudar.’ Não mudou. Foi António Costa que se apresentou contra Seguro e entregar o cartão foi das coisas mais certas que fiz", relata. Entregou-o a um porteiro da sede nacional do partido, no Largo do Rato.
Benavente é muito crítica do rumo seguido pelas políticas de Educação nos Governos socialistas: o que Maria de Lurdes Rodrigues fez no consulado de Sócrates “foi dramático”; Tiago Brandão Rodrigues, ministro com Costa, “sabia zero" e “não tinha qualquer projeto”, pelo que "as coisas começam-se a estragar” . A ex-governante diz “não concordar com nada da política atual”.
“Tenho tentado não intervir muito na Educação para salvaguardar a minha saúde mental”, assume. Considerando que “aquilo a que se foi assistindo, com grande responsabilidade do PSD mas também muita do PS, nomeadamente nestes últimos Governos, é terrível”.
Nas últimas eleições, votou Bloco de Esquerda e diz “começar a sentir muito a necessidade outra vez de um movimento de cidadãos democratas que não se identificam nem com esta política do PS nem com o PSD”, partido que diz ser “um vazio assustador”.
“Sinto muito a necessidade de um movimento novo e estou disponível para isso”. Aos 77 anos, Ana Benavente conta como detestou ser deputada: “Durante as campanhas eleitorais (feitura das listas), quando eu entrava numa sala, eles calavam-se, estavam sempre a tratar de negócios em que eu não entrava. Eu era sempre a n.º 2, era a ”quota". De um modo geral, diz que no Parlamento “se trabalhava mal. Vivia-se muito para o espetáculo, os bons deputados eram os que faziam aquelas risotas …”.
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