Presidenciais 2021

Marcelo a Daniel Oliveira: o Natal resultou de “um equilíbrio” “muito, muito falado com o PM” e que “se sabia ter um preço a pagar”

Marcelo a Daniel Oliveira: o Natal resultou de “um equilíbrio” “muito, muito falado com o PM” e que “se sabia ter um preço a pagar”
JOSÉ FERNANDES/SIC/EXPRESSO/LUSA

Ventura quer a Justiça ou o MAI? Marcelo diz que daria posse a um Governo viabilizado pelo Chega mas ministros é outra coisa - faria um "exame a cada nome para cada pasta". Numa longa entrevista ao podcast de Daniel Oliveira Perguntar Não Ofende, o Presidente diz que o desconfinamento no Natal foi uma solução "de equilíbrio" entre ele e Costa que se sabia que "tinha muitos riscos" e "um preço a pagar"

"Eu tinha sempre uma predisposição menos aberta, o Governo tinha uma predisposição mais aberta, e aqui chegou-se a um equilíbrio que já se sabia que tinha muitos riscos". Em entrevista ao podcast Perguntar Não Ofende, de Daniel Oliveira e João Martins - gravada na segunda-feira de manhã, ainda antes de saber do teste positivo à covid-19 -, Marcelo Rebelo de Sousa explica que o desconfinamento no Natal avançou nesta base: "Há que fazer uma descompressão e pagar o preço, esperemos que não seja muito elevado".

A conversa começa pela pandemia e o Presidente da República recandidato assume que o aliviar das regras no Natal foi um assunto "muito, muito falado" entre ele e o primeiro-ministro - "talvez dos mais falados" - e que motivou "muita hesitação".

Da suas relações com António Costa, Marcelo também relata como foi apanhado de surpresa na AutoEuropa quando o primeiro-ministro deu apoio indireto à sua reeleição, e não afasta a hipótese disso ter dado gás a André Ventura para as presidenciais ao desguarnecer a direita.

"Isso é uma pergunta que tem que fazer ao primeiro-ministro", responde Marcelo, assumindo que se Costa lhe tivesse perguntado ele teria tentado demovê-lo: "Eu dizia-lhe, não diga isso, porque pode ter resolvido um problema seu, mas criou-me um problema a mim".

Na longa conversa com Daniel Oliveira, Marcelo Rebelo de Sousa deixa um recado ao líder do Chega quando este disse que se viabilizar um Governo de direita sonha com as pastas da Justiça ou do MAI. O Presidente confirma que não tem nada contra dar posse a um Governo viabilizado pelo partido de Ventura, mas lembra que um dos poderes do Presidente da República é "fazer um juízo em relação a qualquer pasta" e diz que "reservaria, como acontece sempre" o seu "exame" prévio aos nomes que lhe fossem propostos.

De Ventura ao racismo foi um pulo e Marcelo reconhece que "é evidente que há racismo na sociedade portuguesa" e que "uma das fragilidades da democracia portuguesa" é "não haver representação das minorias étnicas no país político".

Quanto à relação com novos partidos radicais como o Chega, Marcelo diz que tanto a direita como a esquerda democráticas "estão a sofrer as consequências das dificuldades de adaptação das democracias clássicas às democracias mediáticas e inorgânicas". E insiste que "a forma mais eficaz de lidar com estas novas realidades é o combate das ideias, que pode ser ganho". Trump era um tonto? "Não era tonto, era questionável e tinha que ser questionado".

Colado ao centrão, Marcelo não antecipa grandes diferenças num segundo mandato, sobretudo em contexto de crise. "No momento vivido no país, acho fundamental que o PR seja um fator de unificação", diz, embora continue à espera "de uma alternativa forte".

Muito apertado por Daniel Oliveira por não ter tido uma palavra para a viúva do ucraniano morto às mãos do SEF, o PR insistiu que falar-lhe antes de o Estado português assumir as responsabilidades, teria uma consequência: "Ela queria saber quem eram os responsáveis e ía dizer: o homem ligou-me e o que tem para me dizer é nada".

Sobre a eutanásia, o Presidente continua a reservar a sua posição até o diploma que está no Parlamento lhe chegar às mãos, mas diz que "se a lei chegar antes das eleições, eu decido antes" (cenário com calendário improvável, como o Expresso já escreveu).

Sobre as suas relações a Ricardo Salgado, o entrevistado considerou "deselegante" usarem a sua amizade com o banqueiro, porque "uma pessoa não tem que ser julgada politicamente por ser amigo, a menos que tenha tido interferência na Justiça". Perguntado sobre se alguma vez colaborou com o GES ou o BES, respondeu: "Se dei pareceres? Não me lembro de ter dado".

A conversa ainda passou em revista a histórica ligação do candidato a África, quando o seu pai, no antigo regime, foi Governador de Moçambique, e Marcelo reconhece que "houve aspetos no colonialismo (como o trabalho forçado) que foram criminosos".

A menos de duas semanas de ir a votos - e horas antes de saber que estava infetado com Covid - Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se preocupado com a abstenção "que é muito penalizadora para o PR vencedor e para a democracia". Mas encontrou otimismo no facto de o dia das eleições ser um dia de abertura no meio de mais um período de confinamento geral: "Sendo um dia de desconfinamento, as pessoas vão associar o voto ao desconfinamento". Será?

Se as contas finais o reelegerem, como tudo indica, mas com uma votação pouco acima dos 50%, Marcelo já encontrou uma teoria para descobrir vantagens. "Em princípio, é verdade que se perde peso político, mas o peso político vai-se ganhando e quem ganha tangencialmente também tem que fazer pela vida". Isto são boas ou más notícias para António Costa?

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: AVSilva@expresso.impresa.pt

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