2023, o ano de ouro do enoturismo

Crescimento: dois recordes — um nos valores de exportação do vinho português, outro nas receitas do turismo — fazem antever um ano em grande para o Enoturismo em Portugal
Crescimento: dois recordes — um nos valores de exportação do vinho português, outro nas receitas do turismo — fazem antever um ano em grande para o Enoturismo em Portugal
O enoturismo foi identificado pelo Conselho Estratégico para a Promoção Turística, que integra o Governo e as diferentes regiões de turísticas, como uma das prioridades para 2023, pela capacidade de “promover o desenvolvimento do território, valorizar os produtos endógenos, e potencial de atração de segmentos de mercado de longa distância, que ficam mais tempo e gastam mais”. O sector tem assistido ao crescimento da procura, alavancada pelo turismo em geral, e também pela notoriedade crescente dos vinhos portugueses, que nem a pandemia conseguiu quebrar.
Nunca como até 2022 se exportou tanto vinho português — €941 milhões nas vendas ao exterior, 1,5% acima do ano anterior e a ambição para 2023 é chegar a mil milhões de euros. “É para isso que estamos a trabalhar, quer na promoção nos mercados tradicionais, quer na abertura de novos mercados onde o potencial de crescimento é grande”, projeta Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal.
Estima-se que o mercado global do turismo associado ao vinho tenha gerado receitas próximas dos nove mil milhões de dólares, em 2020, e que em 2030 essa receita se aproxime dos trinta mil milhões de dólares, refere o Turismo de Portugal no documento que aponta o enoturismo como um área estratégica prioritária. Em termos nacionais não existe qualquer contabilização oficial, ainda que os parceiros do sector apontem para 60 mil agentes económicos que dão emprego, direto e indireto, a 100 mil pessoas e geram uma faturação estimada de €410 milhões.
Enoturismo sem CAE
“São necessários números para perceber como pode funcionar o enoturismo”, começa por alertar Maria João Almeida, profunda conhecedora do sector como jornalista de vinhos e hoje presidente da Associação Portuguesa de Enoturismo (APENO), criada em 2020. “Não há dados de quantas adegas existem, quantas empresas praticam provas de vinho, que atividades são desenvolvidas, quantos profissionais”, detalha. “Sem conhecer o sector nas bases, não é possível desenhar uma estratégia”, conclui Maria João Almeida, acrescentando que a APENO tem pedido a criação de uma subclasse do Código de Atividade Económica (CAE) para o enoturismo, bem como de legislação específica: “Seria uma oportunidade para Portugal ser pioneiro.”
Com forte ligação ao Douro, Pedro Araújo, diretor do World Of Wine (WOW), o maior empreendimento do país e um dos maiores da Europa ligado ao vinho, garante que o projeto é “uma parte importante da afirmação do destino como enoturístico”. Inaugurado em 2020, o WOW, na zona histórica de Vila Nova de Gaia, foi vencedor do Prémio Nacional de Turismo na categoria de Turismo Inovador em 2021. “Um dos nossos mantras é ajudar a definir o destino”, destaca, sublinhando que dos nossos sete museus, dois são dedicados ao vinho: “Temos ainda dois centros de visitas, Taylors e Croft que complementam a oferta.” O fator diferenciador do projeto prende-se com a ligação ao terroir e aos produtores. “O grande contributo é não só a oferta, mas a forma como o fazemos, focados no território nacional. Pôr o foco no país como produtor de vinho, nas regiões e nas castas”, detalha. Sobre o posicionamento do enoturismo no país, “garantidamente estamos nos caminho certo, basta ver como estávamos há 30, 20, 10 anos”.
Posicionar o vinho ou o enoturismo?
“Uma coisa está diretamente ligada à outra”, diz Filipe Rocha, da Azores Wine Company, que há 10 anos começou, com António Maçanita e Paulo Machado, a produzir vinho no Pico e, em 2021, inaugurou aquela que é, até agora, a única estrutura completa dedicada ao enoturismo na ilha, cuja paisagem vínica é Património da Humanidade. “Estamos a falar de uma revolução na última década. A área de vinha multiplicou por cinco e o número de produtores duplicou. Há jovens nesta área e isso mostra uma região dinâmica e em rejuvenescimento”, considera. Na Azores Wine Company, o enoturismo inclui sala de provas, restaurante com menu de degustação e a possibilidade de dormir na adega, que posiciona o produto num patamar de excelência e serve também de bitola para os projetos que se seguem. “Neste momento já somos 38 pessoas na Azores Wine Company, dos quais 12 no enoturismo. O contributo para a criação de postos de trabalho, fixação de pessoas nos meios mais rurais é muito positivo e grande parte do sector dá-o ao país”, sublinha Filipe Rocha, que assiste à mudança gradual da ilha, ao adaptar-se aos novos turistas.
O mesmo se espera que suceda na região do Douro que é, este ano, Capital Europeia do Vinho, uma iniciativa internacional, considerada “uma oportunidade para se promover o enoturismo, a cultura e o património e poder receber condigna e amplamente os visitantes, evidenciando o vinho como elemento estratégico e essência da nossa atividade económica”. A comunidade intermunicipal composta por 19 municípios do Douro alimenta, em consequência, a expectativa de que, até ao final do ano, a “região seja um grande contribuinte das exportações nacionais, faça do vinho e da vinha uma alavanca concreta e real para o desenvolvimento da economia e riqueza” de quem ali vive e trabalha.
O Prémio Nacional de Turismo (PNT) distingue empresas, projetos públicos e personalidades. Para 2023 uma novidade: o Prémio Personalidade, que substitui o Prémio Carreira. As candidaturas decorrem até 31 de maio de 2023.
Turismo Autêntico: destacar projetos que valorizam os recursos endógenos, descentralizam e mitigam a sazonalidade.
Turismo Gastronómico: premiar projetos que apostam na valorização de produtos endógenos, promovendo a gastronomia local e regional.
Turismo Inclusivo: eleger projetos que fomentam a confiança e empatia do consumidor; fidelização; inclusão e obtenção de feedback por parte do utilizador.
Turismo Inovador: premiar projetos que desenvolvam inovação a nível da oferta turística e do modelo de negócio, utilizem o digital para comunicar, distribuir e vender; promovam parcerias de cross-selling e utilizem business intelligence para a promoção do alcance e eficiência do negócio.
Turismo Sustentável: distinguir projetos que promovam o uso eficiente dos recursos, incentivam um turismo responsável e implementam medidas e práticas que visem a redução e compensação da pegada ecológica.
Candidaturas: até 31 maio
Avaliação: 1 junho a 31 de julho
Reunião de comités e júri: setembro e outubro
Entrega de prémios: novembro
Para se habilitar a vencer o PNT apresente a sua candidatura até 31 de maio. Saiba mais AQUI
PRÉMIO NACIONAL DE TURISMO
O Expresso e o BPI, em parceria com o Turismo de Portugal e a Deloitte, lançam pelo quarto ano consecutivo o Prémio Nacional de Turismo (PNT), uma iniciativa para promover, incentivar e distinguir as melhores empresas, práticas e projetos do sector.
Textos originalmente publicados no Expresso de 3 de março de 2023
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: pbrilhante@impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes