Prémio Nacional Turismo

“Menos turistas e mais receita não é utopia, mas um desígnio”

O Prémio Carreira, Jorge Rebelo de Almeida (ao centro), com Pedro Barreto e Francisco Pedro Balsemão
O Prémio Carreira, Jorge Rebelo de Almeida (ao centro), com Pedro Barreto e Francisco Pedro Balsemão
Nuno Fox

Jorge Rebelo de Almeida: o fundador e presidente do grupo Vila Galé, distinguido esta semana com o Prémio Carreira 2022, aponta os caminhos para o turismo em Portugal

Aos 73 anos, Jorge Rebelo de Almeida garante que não está “a cair da tripeça” e que tem ainda “muitos projetos para concretizar”, destacando a abertura, em 2023, de quatro hotéis em Portugal. Distinguido esta semana com o Prémio Carreira, pelo júri da quarta edição do Prémio Nacional de Turismo, o fundador e presidente do grupo hoteleiro Vila Galé aponta os caminhos para resolver os principais desafios do turismo em Portugal. Com os melhores resultados de sempre confirmados em 2022, o próximo ano apresenta muitos desafios, tendo como pano de fundo, a guerra na Ucrânia, a inflação, os custos da energia e das matérias-primas e a escassez de recursos humanos. Neste contexto, o empresário recusa euforias e aconselha prudência ao sector: “Com as nuvens que se perfilam no horizonte será muito bom se em 2023 conseguirmos igualar os resultados deste ano, para poder crescer em força em 2024. Depois de um ano excelente, a nossa posição seria a de fazer um pequeno ajustamento nos preços para melhorar a rentabilidade e proceder a um aumento de salários mais expressivo, mas a situação de inflação e o aumento das taxas de juro aconselham a alguma moderação.” Na prática, Jorge Rebelo de Almeida, anuncia que o grupo a que preside decidiu “manter a estabilidade dos preços para incentivar a procura e continuar a apostar na melhoria da nossa oferta turística a todos os níveis, desde as instalações físicas à qualidade de serviço, com muita formação profissional criativa”.

Escassez de recursos humanos

Uma das questões que maior pressão tem gerado junto das empresas turísticas é a falta de recursos humanos. Identificado ainda antes da pandemia, o problema agudizou-se este ano. Rebelo de Almeida reconhece que a “melhoria de remunerações e das carreiras são essenciais” e que as empresas devem dar o exemplo: “A nossa intenção é avançar com aumentos salariais de dois dígitos”, esclarece, recordando que o grupo conta, atualmente, com cerca de 3750 colaboradores, em Portugal e no Brasil. Mas, há muito mais a fazer, garante: “Seria bom que o Estado partilhasse este esforço com as empresas, nomeadamente ao nível da TSU e IRS, uma vez que beneficia com maior arrecadação de impostos através dos aumentos salariais.” Ainda nesta matéria, o Prémio Carreira 2022, deixa novos recados ao Governo: “A simplificação do visto para trabalhadores dos países de língua portuguesa foi excelente, mas precisa de ser urgentemente conjugada com medidas para melhorar a oferta de habitação para os nacionais e para os novos emigrantes, como renda limitada, propriedade resolúvel e bonificação de juros.”

Combater a sazonalidade

Com 37 hotéis (27 em Portugal e 10 no Brasil), o grupo Vila Galé prepara a abertura, em 2023, de duas unidades em Beja, uma em Tomar e outra na ilha açoriana de São Miguel. Esta é uma das formas de captar visitantes para regiões com menor densidade turística e, em simultâneo, atenuar a sazonalidade. Para tal, defende, é “necessário recuperar património histórico/cultural e intensificar a oferta cultural e de animação, bem como a criação de eventos musicais, teatrais e gastronómicos, entre outros”. Rebelo de Almeida vai mais longe e faz o desenho das novas atrações turísticas: “O parque temático dos Descobrimentos Portugueses, o Museu da Língua Portuguesa, a grande mostra de produtos portugueses — em exposição permanente —, as feiras populares recriadas com imaginação e modernidade, e a abertura de mais monumentos ao público.”

Menos burocracia

Os últimos dados indicam que Portugal está a atrair, cada vez mais, os chamados “turistas de qualidade”, que procuram destinos autênticos e que geram mais receita para os diversos operadores. O mais recente exemplo é o mercado norte-americano que, em 2022, já é o quinto maior país emissor de turistas para Portugal. O presidente do grupo Vila Galé não tem dúvidas: “Menos turistas e mais receita não é uma utopia, mas antes um desígnio que se constrói paulatinamente a médio, longo prazo percorrendo, em paralelo, o caminho para a excelência da nossa oferta turística.” Mas para acelerar este objetivo falta “uma estratégia, em vez de medidas desgarradas” e que o Estado dê o exemplo com reformas na Administração Pública, “reduzindo a terrível burocracia que tem atrasado licenciamentos” de novos projetos, como aquele que o grupo está a tentar aprovar há mais de um ano em Ponte de Lima. “Tem sido um sofrimento”, suspira Rebelo de Almeida.

Aeroporto, que solução

Para aumentar a entrada de turistas em Portugal, fundamental para solidificar o crescimento sustentado do sector, o novo aeroporto de Lisboa tem sido apontado como o problema maior na área das acessibilidades. “É preciso, no mínimo, executar as obras no aeroporto de Lisboa e criar com urgência um plano para reforçar a participação dos restantes aeroportos nacionais, incluindo Beja na equação, para retirar algum tráfego de voos charter e low cost”, explica o empresário, que relativamente à localização é perentório: “O Montijo nunca poderá ser alternativa.” No topo das preocupações está também o desígnio de transformar Portugal num “destino verde”, com a mobilidade elétrica, com destaque para o comboio, a ter um papel importante na deslocação interna e captação externa de turistas, a partir de Espanha. Defende, neste contexto, que “a prioridade óbvia” é a ligação a Madrid e à rede europeia. E conclui: “Se há área em que se justificaria a privatização, concessões e parcerias público-privadas, é sem dúvida a ferrovia.”

Vencedores

Categoria Turismo Autêntico

Premiado Rotas Açores — Itinerários Culturais e Paisagísticos (Açores)

Projeto de estruturação da oferta de Touring Cultural e Paisagístico dos Açores promovido pela Secretaria Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas.

Categoria Turismo Gastronómico

Premiado Chefes on Fire

Evento de slow cooking realizado em Cascais é considerado o maior festival gastronómico do país, com vários chefes nacionais de renome a cozinhar com fogo e ao som de música.

Menção Honrosa Fins de semana Gastronómicos do Porto e Norte de Portugal

Roteiro gastronómico anual que promove a gastronomia e vinhos dos territórios integrados na Região de Turismo do Porto e Norte de Portugal.

Categoria Turismo Inclusivo

Premiado É Um Restaurante e Azores All in Blue — Turismo & Autismo

Pela primeira vez, o prémio é atribuído ex aequo a duas entidades. É Um Restaurante (Lisboa) é um projeto social que promove a formação e inclusão de pessoas em situação de sem-abrigo. Já a iniciativa Azores All in Blue — Turismo & Autismo centra-se na investigação e valorização da experiência turística de crianças com perturbações do espectro autista (PEA).

Categoria Turismo Inovador

Premiado Digital Nomads Madeira Islands

Esta iniciativa deu a conhecer internacionalmente as ilhas da Madeira e de Porto Santo como destinos atrativos para os nómadas digitais.

Categoria Turismo Sustentável

Premiado Top Atlântico +Planeta

O projeto desenvolveu e promoveu um modelo de turismo mais sustentável, que inclui medidas internas de redução de desperdício, apoio a entidades mais carenciadas e compensação da pegada CO2.

PRÉMIO NACIONAL DE TURISMO

O Expresso e o BPI, em parceria com o Turismo de Portugal e a Deloitte, lançaram pelo quarto ano consecutivo o Prémio Nacional de Turismo (PNT), uma iniciativa para promover, incentivar e distinguir as melhores empresas, práticas e projetos do sector.

Textos originalmente publicados no Expresso de 16 de dezembro de 2022

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: pbrilhante@impresa.pt

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