Prémio Nacional Turismo

Uma cidade em ebulição permanente com sotaque do Norte: Assim é o Porto

22 abril 2019 15:40

A cidade Invicta foi a que acolheu, no último ano, mais novos espaços de oferta turística. Entre hotéis e restaurantes, a tendência é para continuar a crescer. Conheça as principais estrelas no Guia Boa Cama Boa Mesa 2019, já à venda. Acompanhe neste site todas as novidades do Prémio Nacional de Turismo

22 abril 2019 15:40

A nova vida do Porto está por todo o lado. Edifícios renovam-se para se rechearem de intensas experiências, a gastronomia mostra o seu lado mais genuíno e contemporâneo, as tradições reinventam-se e dão-se a conhecer. A cidade revela-se em nuances de autenticidade, no que de mais genuíno tem, mas também no brio dos seus novos espaços, que resgatam o lado mais elegante da Invicta e o devolvem em matrizes contemporâneas. Se alguns ganham nova vida com renovações que recuperam o brilho e esplendor de outros tempos, outros modificam usos de edifícios antigos, e outros ainda baseiam-se na essência do vinho que é emblema da cidade, tornando-se sala de visitas deste ícone.


C
onhecer este novo Porto é também regressar ao passado de edifícios marcantes que adquirem, por força da renovação, nova vida, recuperando o brilho e esplendor de outros tempos. É o caso do emblemático Monumental Palace (Avenida dos Aliados, 151, Porto Tel. 227662410. Desde €250), a segunda oportunidade para brilhar dada ao edifício, construído em 1923 para ser um majestoso hotel, sob o traço do arquiteto Michelangelo Soá. O prédio esteve décadas ao abandono até ser adquirido pelo empresário Mário Ferreira que demorou seis anos a reerguer um hotel pensado para abrir como “o mais luxuoso da cidade”. Vendido à cadeia francesa Maison Albar, abriu no final de 2018, para se tornar de imediato uma referência de luxo na cidade e uma viagem no tempo que recupera o esplendor cosmopolita da época áurea, nos estilos Art Nouveau e Art Déco, tanto nos espaços comuns como nos 76 quartos, dos quais 13 são espaçosas suítes. O bistrô homenageia o antigo Café Monumental, à época, um dos mais requintados do país. Para um jantar mais exclusivo, o restaurante Le Monument evidencia a subtileza da gastronomia francesa pela mão do chefe Julien Montbabut. Embebida no glamour da época dourada, a sala revela jogos de luz e materiais nobres, como o mármore e a madeira, no conforto dos sofás corridos, perfeitos para receber os menus de degustação, de cinco ou sete passos, acompanhados por uma apurada carta de vinhos, com notas de França. O serviço, excelente, revela um je ne sais quoi descontraído. Nas palavras do diretor-geral, Floris Boyen, este é “um conceito ímpar, que combina na perfeição a monumentalidade do edifício, a história da cidade e o estilo francês”.



Numa clara ligação ao vinho que é também ícone da cidade, 2018 viu nascer dois novos espaços que expandem este universo à hotelaria e restauração. É o caso da Gran Cruz House (Viela do Buraco, 19, Porto Tel. 227662270. Desde €180). No coração da Ribeira, é feita à medida dos seus néctares. O edifício do século XVII está hoje aberto ao rio, inspirado no vinho e na essência portuguesa. Em cada um dos sete quartos o minibar oferece uma garrafa de Porto. A experiência prolonga-se em cada janela com vista sobre o rio e culmina no restaurante Casario (Preço médio: €30), comandado pelo chefe Miguel Castro e Silva em parceria com José Guedes, que conferem à cozinha tradicional novas roupagens. Numa elegância despojada, apresenta interpretações da tradição - como o Bacalhau à Gomes de Sá ou o Porco com migas de paio e couve lombarda, acompanhados por uma boa carta de vinhos. Pode também optar pelos menus de degustação de cinco ou sete momentos.



Na mesma linha, a mítica Sandeman abriu portas em 2018 ao primeiro branded hostel do mundo. A The House of Sandeman Hostel & Suítes (Largo Miguel Bombarda, 3, Vila Nova de Gaia Tel. 213461381. Desde: €150) prolonga o mistério do Don – o homem mais famoso do Vinho do Porto – para dentro de portas. Junta num mesmo espaço camaratas, com 43 camas em formato de pipa, ideais para viajantes “de mochila às costas”, com 12 agradáveis suítes, ecléticas e com vista de rio. Os espaços inspiram-se no universo do Vinho do Porto, conjugando materiais como o ferro, a madeira e o granito. Apoia-se num restaurante que segue a mesma matriz eclética – o The George (Preço Médio: €30) – cuja carta desenhada por Pedro Limão atravessa o Douro numa viagem geográfica e gastronómica. Ovo de Baião, Javali para Fumar, ou Um Polvo com Bolas são pratos emblemáticos para desfrutar na companhia de cocktails de assinatura baseados, naturalmente, no Vinho do Porto.



A partir do primeiro cinco estrelas da cidade que, noutros tempos, serviu de sala de visitas a ilustres turistas, o emblemático Infante Sagres (Praça Dona Filipa de Lencastre, 62, Porto Tel. 223398500. Desde €195), localizado “no epicentro desta fervilhante energia que atravessa a cidade” renasce em 2018, pela mão da Taylor’s, “pronto para oferecer a quem a visita uma experiência de luxo e requinte”. Mantendo os elementos distintos e charmosos da sua origem, oferece agora mais conforto, mais luz e modernidade, seja nas zonas comuns ou em cada um dos 85 quartos e dez suítes, decorados com obras de arte originais e detalhes requintados. O Vogue Café, que convoca o universo estético da moda, está ligado ao hotel por um agradável pátio interior.



Os pátios interiores são, aliás, uma característica comum a muitas casas tradicionais do Porto e que lhes conferem interesse adicional. Também na recente Cocorico Luxury Guesthouse (Rua Duque de Loulé, 97, Porto Tel. 926885187. Desde €150) existe um destes espaços “secretos”, neste caso contíguo ao restaurante de cozinha francesa Cocorico e visível a partir de alguns dos dez quartos e suítes. Generosos, todos diferentes entre si e dotados do chamado “luxo despojado”, refletem o clima de romance que os inspiram: adotam nomes de casais reais, enamorados entre Portugal e França. Acentuando o clima de romance, o pequeno-almoço pode ser servido no quarto, sem custo acrescido nesta que é a primeira localização fora de França do Grupo Milésime.



E que símbolo maior do amor do que o coração minhoto, expresso na tradicional filigrana? É nesta arte tão portuguesa que se baseia o Pestana Porto Goldsmith (Rua do Almada, 14, Porto Tel. 210417160. Desde €90). Propriedade da família de joalheiros David Rosas e gerido pelo Grupo Pestana, o espaço adota a configuração de uma casa antiga do Porto. Alberga 43 quartos, todos com varandas e alguns com terraço. Aberto ao público em geral, o Auru Rooftopbar serve cocktails de assinatura que remetem para outra arte milimétrica: a relojoaria. Para breve, com ligação direta ao hotel, está prevista a abertura do Museu da Filigrana e uma loja David Rosas.



Se não faltam exemplos de espaços que conferem nova vida a antigos edifícios simbólicos na cidade, poucos terão cortado com a tradição como o que hoje acolhe o hotel Porto Royal Bridges (Rua de Sá da Bandeira, 53, Porto Tel. 222436221. Desde €129). Quando foi erguido, nos anos 60, para albergar um banco, revolucionou, com os seus traços direitos, a arquitetura clássica da Rua Sá da Bandeira. Vidro, aço e ferro ganham nova dimensão, aliados à decoração de Nini Andrade Silva, para remeter a outras estruturas da cidade: as pontes sobre o Douro. 70 quartos, distribuídos por seis pisos, sala de estar, bar Eiffel e restaurante Entre Pontes completam a oferta.



Um dos mais interessantes espaços que abriu portas já em 2019, o Torel 1884 Suítes & Apartments (Rua de Mouzinho da Silveira, 228, Porto. Desde €120) conta a história dos Descobrimentos portugueses em cada detalhe das suas 12 espaçosas suítes e nos espaços comuns. Cada piso é dedicado a um continente conquistado pelos corajosos navegadores – África, Ásia e América –, enquanto os 12 quartos da unidade, sob o exotismo de destinos longínquos, são dedicados a um produto – tapeçarias, sedas, pássaros, café, cana-de-açúcar, especiarias, porcelanas, chá, tabaco, madeiras – e iluminados por enormes janelas do edifício mítico que já teve várias vidas e albergou, mais recentemente, um banco. O cofre-forte ainda integra a casa e hoje guarda outras ‘preciosidades’: uma seleção de vinhos da garrafeira do restaurante Bartolomeu.



Retomando a ligação umbilical da cidade ao vinho, é das mãos da mais antiga e nobre empresa portuguesa dedicada a explorar e comercializar o Vinho do Porto que nasce um arrojado projeto. A Enoteca 17.56 (Real Companhia Velha, Alameda da Rua Serpa Pinto, 44-B, Vila Nova de Gaia. Tel. 222448500. Preço médio: €35) é a face mais contemporânea do edifício que alberga também o Museu da 1ª Demarcação, espaço onde se detalham os mais de 260 anos da companhia. Em ambiente distinto, uma enorme sala conjuga três restaurantes diferentes, uma enoteca, com mais de 500 referências vínicas, e uma fromagerie que, como a garrafeira, oferece produtos lusos e internacionais. Diversidade é a palavra de ordem: destacam-se as zamburiñas e os bolinhos de bacalhau, os exóticos tataky de salmão, beringela em tempura e sonomono de peixe, o montadito de sapateira, sopa rica de peixe e arroz de lavagante, e as carnes maturadas do Reitoria.



Como numa abertura a fogo, há expectativa, técnica e surpresa no restaurante que traz o “fire dining” para o centro da cidade, a usar apenas o fogo como elemento para todas as confeções. No Elemento (Rua do Almada, 51, Porto. Tel. 224928193. Preço médio: €35) pratos sublimes, como a cavala curada, o pregado, abóbora e molho de fígado ou a língua de vaca estufada saem do grelhador exclusivo e do forno tradicional, movidos a diferentes tipos de lenha. A carta muda semanalmente e o menu de degustação de sete momentos é especialmente aconselhado. O requinte despojado do espaço tem no balcão palco privilegiado para a cozinha delicada, equilibrada entre influências longínquas - herdadas da passagem dos proprietários pela Austrália – e os produtores locais.



Também o projeto Almeja (Rua de Fernandes Tomás, 819, Porto Tel. 222038120. Preço médio: €30) do chefe João Cura revela preocupações ambientais e de sustentabilidade. O diálogo com produtores locais, para apresentar apenas os ingredientes da época, com boa técnica e respeito pelo produto é marcante neste espaço de casual fine dining, em que a sensibilidade e a coerência se estendem da cozinha à sala. À semana, o menu de almoço, com três momentos, é uma boa aposta, também coerente na degustação de oito momentos. Da carta, sublinha-se a tosta de cabeça de xara, o arroz negro do Mondego, o pombo Torcaz e a vaca maturada.



Noutra zona da cidade, a requintada Foz, Angélica Salvador estabeleceu-se em nome próprio num projeto que é um elogio à tradição e um piscar de olhos prolongado a um futuro que parece promissor. Do In Diferente (Rua Dr. Sousa Rosa, 23, Porto. Tel. 220924377. Preço médio: €30) sugere-se o atum dos Açores com abacate fresco, molho picante e cebolinho, o fenomenal carpaccio de polvo com pimentos fumados, cebola roxa e coentros e o foie gras servido com uma rabanada de Vinho do Porto, maça e fava Tonka.



Seguindo sempre a marginal havemos de ir parar a outro interessante projeto. Em Leça da Palmeira, o Fava Tonka (Rua de Santa Catarina, 100, Leça da Palmeira. Tel. 915343494. Preço médio: €25) aposta numa clara tendência transversal a quase todos os espaços – tanto que este ano o Guia Boa Cama Boa Mesa assinalada todos os restaurantes que oferecem na carta opções vegetarianas. Trata-se de um elegante restaurante de matriz vegetariana, aberto a experiências diversas. Quase todos os ingredientes são provenientes de produtores biológicos, e por isso mesmo a ementa, que muda regularmente, respeita a sazonalidade. Quando visitámos brilharam o Topinambur, batata violeta e azeitona, o Grão-de-bico, miso e pickles de cebola e a Beterraba, uva e queijo de cabra.



De regresso ao centro da cidade onde fervilha a nova vida do Porto, outra prova de que a outrora Invicta está hoje aberta a influências das mais diversas paragens. Na outrora tradicional Rua da Picaria é hoje possível embarcar numa viagem à Ásia, tanto à mesa como na atmosfera dos restaurantes de rua tradicionais. O Boa-Bao (Rua da Picaria, 61-65, Porto Tel. 910043030. Preço médio: €30) convida a percorrer atentamente o passaporte e atreva-se a explorar o extenso menu, que se prolonga por tantas paragens como a diversidade de sabores que o continente sugere, do Japão à Coreia, da China à Tailândia, em mais de 60 propostas. Chamuças vegetariana com chutney de coentros e hortelã, Bao do Dragão, camarão agridoce com vegetais e abacaxi ou sopa de caril da Malásia com noodles de ovo e mariscos são boas apostas.

O Guia Boa Cama Boa Mesa 2019, que contou com o apoio/parceria da Galp - Evologic, Recheio - Cash & Carry, Caterplus, BPI, Europcar e TAP - Air Portugal, já está venda, por €12,90. Pode, também, fazer a reserva do seu exemplar através da Loja Impresa.

Este artigo foi originalmente publicado na edição de quinta-feira, 18 de abril de 2019, do Expresso Diário

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