É um “ato que ofende os princípios basilares de uma sociedade democrática” e, por isso, deve merecer o repúdio de todos os democratas - é assim que Francisco Assis, antigo dirigente socialista, hoje presidente do Conselho Económico e Social (CES), classifica o “cordão humano” que o Chega anuncia para este sábado junto à sede nacional do PS. Ressalvando que esta posição é tomada a título pessoal, Assis considera que o Chega “optou pelo caminho do vandalismo institucional e da retórica antidemocrática, não ignorando as trágicas consequências que daí poderão advir”.
O partido liderado por André Ventura anuncia “uma concentração popular simbólica” que “visa denunciar a corrupção endémica que existe no país e a quase certa prescrição dos crimes de que José Sócrates está acusado”. E vai fazê-lo “cercando simbolicamente com um cordão humano a sede do Partido Socialista, no largo do Rato”, em Lisboa, como se lê na divulgação feita pelo partido, que garante ter articulado “toda a organização desta concentração popular” com a PSP e com a Câmara Municipal de Lisboa.
“Estamos diante de um comportamento de tal modo impróprio e perigoso que não pode contar com a condescendência do nosso silêncio”, escreve Francisco Assis, numa declaração enviada ao Expresso, em que começa por dizer que esta manifestação “deve merecer um veemente e explícito repúdio de todos os democratas portugueses”.
“Estamos perante um ato que ofende os princípios basilares de uma sociedade democrática, injuria todos os militantes de um partido político e comporta um implícito apelo a comportamentos violentos. A linguagem mussoliniana usada pelo Chega contende com os valores democrático-constitucionais vigentes e anuncia uma escalada verbal que deve suscitar a atenção dos titulares dos órgãos de soberania”, avisa o antigo líder parlamentar e eurodeputado socialista.
Assis, que em algumas ocasiões tem criticado o PS e António Costa por considerar que acaba por dar mais palco ao partido de Ventura, entende que, perante esta iniciativa, é preciso mostrar de que lado está e que ninguém deve ficar indiferente porque “quando se fala em cercar uma sede partidária já se está para além de tudo o que é aceitável numa sociedade livre e pluralista”.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: lvalente@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes