Montenegro não conta com o Chega e não quer Marcelo nem para "ajudante" nem para "óbice"
ANTÓNIO COTRIM
Líder do PSD desfez tabu sobre o Chega - não quer qualquer coligação nem conta com o seu apoio político. Em entrevista à CNN, Luis Montenegro também respondeu ao Presidente da República. Não espera de Marcelo nem “um ajudante” nem “um óbice”.
Está desfeito o tabu que Luís Montenegro insistia em não desfazer desde que foi entronizado presidente do PSD em julho do ano passado. “Quero garantir uma coisa aos portugueses: não vamos ter no Governo nem políticas nem políticos racistas, nem xenófobos, nem oportunistas, nem populistas – ou apoio político, se quiser”, disse o líder social-democrata em entrevista à CNN Portugal, esta sexta-feira.à noite.
“Não vamos ter o apoio político de políticas ou políticos racistas, xenófobos, que tenham posições populistas, altamente demagógicas. E sobretudo eu não quero no meu Governo imaturidade e irresponsabilidade”, acrescentou, sem nunca referir o nome do partido de André Ventura.
Quanto à inexistência de uma alternativa forte à direita, o líder do PSD contradiz o Presidente da República. “Há, há uma alternativa e eu sou a alternativa, com o meu partido. Isto é tão claro que mesmo o argumento que é utilizado – e que vale o que vale, já agora, diga-se de passagem – das sondagens induz precisamente que essa alternativa existe”, concretizou. E ainda deixou outro recado a Marcelo Rebelo de Sousa: não espera que este seja “nem um ajudante nem um óbice” para a afirmação do seu partido, admitindo que nem sempre o PSD tem gostado de ouvir as posições do Chefe de Estado.
“Não lhe vou esconder: o PSD não gosta de ouvir isso, não corrobora dessa análise. O líder tem de ser aquele que tem mais sangue frio, que tem de interpretar melhor o que é o interesse do país e o seu próprio. Eu não estou aqui para fazer oposição ao Presidente da República e também espero que o Presidente não esteja aqui para fazer oposição à oposição”, referiu.
O líder social-democrata manteve, aliás, reserva sobre o que irá dizer a Marcelo na audiência que terão na terça-feira, após uma semana em que discordaram publicamente sobre se o PSD constitui já ou não uma alternativa ao Governo do PS.
“Eu não quero que o Presidente da República seja nem um ajudante nem um óbice a este projeto [de construção de alternativa]”, disse. Quando questionado se entende que tem sido um obstáculo, Montenegro preferiu classificar Marcelo como “um árbitro da vida política”, avisando que no dia “em que for parte do debate partidário está subvertido o espírito da Constituição”. “Até agora”, considera que “tal não aconteceu”, embora tenha reiterado a sua discordância quanto ao facto de o Presidente não considerar que haja já “uma alternativa óbvia” ao Governo.
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Na entrevista, Montenegro deixa finalmente claro que não contará com o “apoio político” do Chega nem equaciona o partido de André Ventura para qualquer coligação ou governo. E aproveita para desafiar o PS a dizer se está disponível para apoiar um eventual governo minoritário do PSD.
Sem nunca mencionar o partido de André Ventura, o líder do PSD assegurou que não terá no Governo nem quererá o apoio de “políticas ou políticos racistas, xenófobos, oportunistas ou populistas”, nem que possam trazer a um executivo social-democrata “imaturidade ou irresponsabilidade”, termos que tem aplicado ao Chega.
Sobre a sua estratégia eleitoral para as legislativas, reiterou que o objetivo é lutar pela maioria absoluta e desafiou o PS a dizer o que fará “se algum dos dois maiores partidos não tiver maioria absoluta”, explicando se está disponível a viabilizar um executivo minoritário do PSD ou se quer tentar um reedição da ‘geringonça’, cenário que Montenegro garantiu nunca estar disposto a assumir. Pelo contrário, diz que se perder as eleições, vai-se embora.
Ganhando-as sem maioria, Luis Montenegro remete para mais tarde o que fará. “Depois, vou dizer quais são as linhas orientadoras de hipotéticos acordos que possam ter na base uma sustentação parlamentar de uma governação”, afirmou, remetendo essa clarificação para o período pré-eleitoral. Mas admitiu como possíveis entendimentos com a IL e com o CDS.
Quanto às europeias do próximo ano, o líder social-democrata voltou a dizer que o candidato “não está escolhido” mas manifestou "uma consideração muito grande” pelo atual presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, nome que tem sido muito falado para eventual cabeça de lista.
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