Os socialistas desmultiplicaram-se em reações ao discurso de Cavaco Silva do passado fim de semana, em que o ex-Presidente da República arrasou o Governo de António Costa sugerindo-lhe um rebate de consciência que terminasse em demissão. Acusaram Cavaco de ser “antidemocrático”, de ter “perdido o sentido de Estado”, de “usar uma linguagem para lá dos limites aceitáveis em democracia” e de esbanjar “ódio” e “raiva”. Mas não era essa a leitura socialista da atuação de ex-chefes de Estado, se recuarmos ao primeiro ano de vida do Governo de Pedro Passos Coelho.
A 24 de novembro de 2012, o ex-Presidente da República Mário Soares dirigiu ao então primeiro-ministro do PSD uma carta aberta assinada por 70 personalidades de vários setores da sociedade portuguesa (Soares era o primeiro subscritor), em que acusava Passos de estar “a levar o país para o abismo” e lhe pediam que retirasse “as consequências políticas que se impõem, apresentando a demissão”.
Entre os subscritores estavam sete socialistas e alguns dos protagonistas e dos que têm sido chamados a gerir a atual crise política. A saber (e além de Ferro Rodrigues, ex-líder do PS e ex-Presidente da Assembleia da República), assinaram o ultimato de Soares a Passos o atual ministro das Infraestruturas João Galamba, o ex-ministro da pasta, Pedro Nuno Santos, o deputado Pedro Delgado Alves, o atual ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, e o secretário-geral adjunto do partido, João Torres.
O Governo de Passos e Portas tinha pouco mais de um ano de vida, governava sob resgate financeiro, mas o ex-Presidente Soares, que no início dos anos 80 também tinha governado o país com o FMI a mandar, entendeu que devia passar à oposição frontal à maioria de direita. “Perdeu-se toda e qualquer esperança”, lia-se na carta aberta, onde se acusava o Governo da AD de, munido de “um fanatismo cego”, estar a fazer “caminhar o país para o abismo”. Pediam ao primeiro-ministro que poupasse o país “ainda a mais graves e imprevisíveis consequências”, apresentando a demissão ao Presidente da República, que na altura era Cavaco Silva.
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