Política

Dois conselheiros nacionais e onze membros desfiliam-se e acusam IL de virar à esquerda

Dois conselheiros nacionais e onze membros desfiliam-se e acusam IL de virar à esquerda
NUNO BOTELHO

Maioria das saídas são de membros que integravam a lista de Nuno Simões de Melo ao Conselho Nacional da IL. Votação do grupo parlamentar a favor da autodeterminação de género nas escolas foi a “gota de água”

Os conselheiros nacionais da Iniciativa Liberal (IL), Nuno Simões de Melo, e Mariana Nina, mais onze membros do partido da mesma tendência vão desfiliar-se por divergência ideológica. Numa carta conjunta, os membros acusam a IL de “rumar à esquerda” e “trair os votos” da direita liberal, explicando que a sua saída terá efeitos a partir da meia-noite de terça-feira.

A IL afadiga-se a participar em marchas ao lado da extrema-esquerda portuguesa, em depreciar o eleitorado do Chega, mas dedica-se pouco à razão da sua existência: resolver os verdadeiros e importantes problemas do dia-a-dia dos portugueses”, acusam na missiva a que o Expresso teve acesso.

Insatisfeitos com o rumo seguido pelo líder Rui Rocha, a votação do grupo parlamentar a favor da autodeterminação de género nas escolas no Parlamento, na sexta-feira foi a “gota de água”, segundo avançou o “JN”. A votação a favor e a abstenção dos oito deputados da IL quanto aos projetos de lei do PS e do BE relativos à autodeterminação da identidade de género das crianças nas escolas e no pré-escolar ”afrontam visceralmente a nossa sensibilidade liberal, ética e social, erradicando a nossa consideração pelos representantes do partido que tomaram essas opções de voto", justificam.

Para os membros de saída, da ala conservadora da IL, são “inaceitáveis” as opções recentes do grupo parlamentar liberal, da qual faze parte o atual presidente e dois ex-líderes, tendo “apagado definitivamente qualquer esperança” de que a IL seja efetivamente o “partido da liberdade”. “A IL nega honestamente ser um partido de direita e nega falsamente ser um partido de esquerda. O facto de não ser um partido de direita granjeou-lhe muitos eleitores de esquerda, e determinou o rumo recente do partido”, insistem.

Nuno Simões de Melo encabeçou lista B ao Conselho Nacional da IL
DR

Ao Expresso, o coronel Nuno Simões de Melo admite que a sua saída – após ter renunciado em fevereiro ao lugar de deputado municipal da IL em Mafra – é um “passo natural” dada a sua desilusão face ao caminho que o partido tem vindo a trilhar desde a Convenção de janeiro. “Já alertamos para isso durante a campanha interna. A IL está à deriva e a virar-se cada vez mais à esquerda, ao eleitorado mais woke, socialista, coletivista”, acusa.

A “gota de água”, sublinha, foi a votação do grupo parlamentar liberal a favor da autodeterminação de género nas escolas na última sexta-feira. “Não foi só o Chega, o PSD votou contra. Se o CDS estivesse no Parlamento votaria também contra”, sustenta, alertando para o risco de a IL se transformar numa “caricatura”.

Apesar de garantir que fará um período de nojo para “refletir”, Simões de Melo não descarta aderir no futuro a outro partido. “Não saio da IL para ir para o Chega, estou convencido de que o meu futuro não passará pelo Chega. Temos diferenças, não sou estatista, mas reconheço que o partido defende pelo menos o Estado para as questões de soberania. Já a IL pouco ou nada fala de diplomacia, defesa ou segurança interna”, nota.

Entre as desfiliações encontra-se Raquel Martins, vice-coordenadora do Núcleo Territorial da Maia; Paulo Silvestre, tesoureiro do Núcleo Territorial da Maia; João Neves, secretário do Núcleo Territorial da Maia; João Pedro Silva, coordenador do Núcleo Territorial de Famalicão; Nuno Cruz, tesoureiro do Núcleo Territorial de Famalicão, e André Amorim, secretário do Núcleo Territorial de Famalicão. As saídas deverão obrigar a eleições nos núcleos da IL da Maia, Famalicão, Pombal e Torres Vedras.

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