“Lula da Silva está alinhado com Matteo Salvini relativamente à Guerra na Ucrânia”, atira Nuno Melo, visando o italiano, aliado do Chega, enquanto critica o presidente brasileiro pelo “erro trágico” nas declarações que fez sobre o conflito. O centrista defendeu, num encontro com jornalistas portugueses em Estrasburgo, que o político brasileiro, ao fazê-lo, “alinha uma grande democracia com o pior das ditaduras”.
Apesar disso, aponta a contradição à extrema-direita portuguesa: “Quando eu ouço André Ventura a falar em Portugal eu rio-me”. “Os partidos afiliados do Chega aqui no Parlamento Europeu votam tal e qual [a posição de] Lula da Silva”, atira. Um estudo feito pelo jornal independente russo “Novaya Gazeta" colocava o partido francês União Nacional, de Marine Le Pen, e a Alternativa para a Alemanha (AFD), ambos de extrema-direita, como os mais úteis para Putin, por votarem frequentemente contra as resoluções que condenam Moscovo.
Lula da Silva atribuiu, este sábado (dia 15), responsabilidades iguais a Rússia e Ucrânia no desenrolar do conflito. Referia ainda que os Estados Unidos devem parar de “encorajar a guerra” na Ucrânia e que a União Europeia precisa “começar a falar de paz”.
Defendendo as relações diplomáticas entre Portugal e Brasil, Nuno Melo sublinha que “o presidente Lula da Silva tem de ser recebido com total dignidade em Portugal”, mas critica a associação do governante brasileiro "ao 25 de abril, que consagra as liberdades, depois de fazer declarações em que se coloca ao lado das ditaduras”. E é nesse momento que deixa também um remoque ao partido do governo: “O Partido Socialista, que o convidou sem ouvir os outros, já agora devia chamá-lo à razão e explicar que a sua presença na Assembleia da República é muito errada”.
Esta terça-feira (18), após muitas críticas no cenário internacional, o chefe de estado brasileiro retratou-se e condenou “a violação da integridade territorial da Ucrânia”, embora sem nunca mencionar diretamente a Rússia.
André Ventura, que convocou uma manifestação contra o presidente brasileiro para o dia 25 de abril, defende que Lula da Silva devia ser condenado no 25 de abril pela “proximidade com a Rússia e China” e pela “incapacidade de ver o sofrimento do povo ucraniano”.
Salvini e Bolsonaro em Portugal para encontro da extrema-direita internacional
Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro italiano, virá a Portugal no próximo mês, a convite do Chega. Será um dos participantes do congresso de partidos ultranacionalistas que decorre no Campo Pequeno, em Lisboa, a 13 e 14 de maio, e que contará também com a presença de Jair Bolsonaro.
O antigo presidente do Brasil, que se apressou a criticar o “vexame para a política externa brasileira”, na sequência das declarações de Lula da Silva, foi o mesmo que sublinhou, no início da guerra, o seu “contacto excecional” com Putin e desautorizou o seu vice-presidente, Hamilton Mourão, após declarações em que este comparava o presidente russo a Adolf Hitler e condenava a invasão da Ucrânia.
“Ele desabafou muita coisa e eu não retruquei. Mantive a posição de estadista. (...) Nós não vamos aderir a essas sanções económicas, continuamos em equilíbrio”, defendeu Bolsonaro em julho do ano passado para justificar a neutralidade brasileira.
Derrotado nas eleições de outubro, o político está agora a ser investigado por atacar o processo eleitoral e pode mesmo tornar-se inelegível em futuros atos eleitorais. A decisão a este respeito será tomada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que recebeu um pedido do Ministério Público para que Bolsonaro perca os direitos políticos durante oito anos.
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