Milhares de portugueses na rua: “Esta gente trabalha todos os dias, não precisam de apoio, precisam é de salários”
TIAGO PETINGA
PCP e BE deram o habitual apoio à manifestação nacional da CGTP, Chega surpreendeu ao surgir no Marquês de Pombal, mas sem integrar o desfile. Críticas a crescimento de lucros sem reflexo nos salários marcam protesto. Há austeridade? “Já a derrotámos, e vamos voltar a derrotar”, disse Isabel Camarinha
Não são as medidas de apoio que o Governo possa disponibilizar à população que vão resolver o agravamento do custo de vida dos portugueses; são os aumentos salariais. Esta é a mensagem central que o PCP e o Bloco de Esquerda quiseram transmitir no apoio que deram à manifestação nacional convocada pela CGTP para este sábado, e que encheu de portugueses a Avenida da Liberdade, em Lisboa. O Chega também por lá esteve, negando oportunismo, e dizendo que aumentos salariais não chegam.
“Os lucros batem recordes e em muitas empresas e sectores mais do que duplicam, ao mesmo tempo que os salários e as pensões perdem poder de compra. Isto não é - não pode ser - uma inevitabilidade. É o resultado de opções políticas. Tem um nome, e chama-se exploração”. Foi assim que Isabel Camarinha, secretária-geral da intersindical que marcou a ação de protesto para este sábado, dia 18 de março.
“A riqueza é criada pelos trabalhadores, tem de ser melhor distribuída por quem a produz”, continuou Camarinha, no seu discurso, nos Restauradores, no final da manifestação nacional. Limites máximos nos bens e serviços essenciais, como alimentação ou crédito bancário, foram propostas deixadas pela CGTP, criticando a decisão do Governo de realizar um estudo para compreender a formação dos preços na grande distribuição. A líder da intersindical não tem dúvidas do que está em causa: uma “clara especulação, quando uns poucos enriquecem com a miséria de tantos”.
Está em curso, disse Isabel Camarinha perante milhares de portugueses, uma nova versão do “aguenta, aguenta”, recuando às palavras do banqueiro Fernando Ulrich na época da troika. Mas à exigência de “mais austeridade”, a líder da intersindical tem resposta: “Já a derrotámos, e vamos voltar a derrotar”.
Isabel Camarinha, líder da CGTP
TIAGO PETINGA
Não são salários a contribuir para inflação
A descer a Avenida da Liberdade estiveram institucionalmente o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda, com habitualmente. “O problema não é o apoio. Esta gente trabalha todos os dias, não precisa de apoio, precisa é de salários”, é a resposta dada pelo secretário-geral do PCP quando questionado sobre as medidas de ajuda a famílias que o Governo vem implementando e anunciando.
Em declarações aos jornalistas, Paulo Raimundo afirmou que “a batalha está ganha do ponto de vista teórico”, porque todos percebem que há uma “emergência que se aplica aos salários”. A contenção salarial tem a regra, e não foi por isso que a espiral inflacionista travou.
Foi também isso que declarou a ainda coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins: “a inflação está galopante e os salários estão a perder. A ideia de que os salários podem provocar a inflação não tem nenhum sentido, a realidade demonstra que é absurda”. “O Governo falhou todas as promessas. As pessoas manifestam-se por uma coisa tão sensata como salários poderem chegar ao final do mês”, continuou.
As medidas de apoio “só chegam a algumas pessoas”, não são elas que podem, sozinhas, resolver o que há por resolver, continuou Catarina Martins, acenando com atualizações salariais, de pensões, mas também com o controlo de margens e lucros para travar a inflação.
TIAGO PETINGA
Lucros em crescendo, salários não
Sobre este tema, a mesma ideia foi defendida tanto pela líder do PCP como do BE, e no discurso de Isabel Camarinha: o crescimento dos lucros. “O Governo começou por dizer que tinha acordos de rendimento, tanto no público como no privado. Estamos em março, não há aumentos em lado nenhum. E não há mês nenhum em que não haja nenhum sector - energia, grande distribuição, banca - que não anuncie milhões de lucros”, disse Catarina Martins.
“Enquanto se contêm os salários, os grupos económicos têm 11 milhões de lucros por dia, a banca 5 milhões, isso não contribui para a inflação?”, questionou-se Paulo Raimundo. A manifestação nacional da intersindical pedia o aumento geral de salários e de pensões para combater a “degradação das condições de vida dos trabalhadores, reformados, pensionistas e suas famílias”, havendo dois grupos de trabalhadores convocados: os da administração pública, e os do privado e sector empresarial do Estado.
E a presença do Chega
Quem marcou presença na manifestação nacional da intersindical foi o Chega. O deputado Bruno Nunes negou que fosse uma surpresa estar presente. “O Chega não vem a uma manifestação da CGTP, vem ao lado da população demonstrar a sua preocupação em relação ao consecutivo aumento do custo de vida”, declarou, em imagens transmitidas pela RTP3.
O Chega recusa que seja oportunismo estar presente no Marquês de Pombal (não participou no desfile na Avenida da Liberdade), dizendo que a luta pelas condições de vida “não é de esquerda, nem de direita”. Quando se chega a um supermercado, ninguém pergunta de que partido é, justificou. As medidas de apoio às famílias, disse Bruno Nunes, “não são suficientes”, lamentando que as propostas do partido, como suspensão do IMI durante o período de vigência do plano de recuperação e resiliência, tenham sido recusadas.
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