Medina quer ser ouvido sobre buscas em Lisboa e defende contratação que fez há quase oito anos
JOSÉ SENA GOULÃO
Câmara de Lisboa alvo de buscas na terça-feira a propósito de caso que envolve a gestão de Fernando Medina. Defendendo a contratação do histórico socialista Joaquim Morão, o agora ministro das Finanças diz que nunca foi ouvido e que é “o principal interessado em fazê-lo”.
Fernando Medina diz que não tem conhecimento de “nenhuma investigação”, a propósito das buscas desta terça-feira na Câmara Municipal de Lisboa ou de qualquer outro processo. “Nunca fui chamado a prestar qualquer declaração em nenhum processo.” Por isso, o agora ministro das Finanças pede à Procuradoria-Geral da República para ser ouvido, “para poder expressar todos os esclarecimentos”. “Sou o principal interessado em fazê-lo.”
Em conferência de imprensa ao fim desta tarde, Medina tinha essa nota principal para dar: quer ser ouvido, está “à disposição do Ministério Público”, nos moldes que a justiça quiser, mas “acentuando o caráter de vontade da minha parte”. Ou seja, a decisão é voluntária.
Numa ronda de perguntas de mais de meia hora, o ministro das Finanças garantiu que tudo o que sabe é pela comunicação social, uma vez que não só não foi constituído arguido nem tem “qualquer inibição”, como nem sequer foi chamado para prestar declarações. Por isso, deixou uma espécie de ‘obviamente, não me demito’. “Tenho as condições [para continuar ministro] que me dá a minha consciência de duas décadas de serviço público. E com a transparência e frontalidade de quem afirma que, durante todos estes anos, nunca fui ouvido em nenhum processo.”
Mais do que a defesa em relação às buscas propriamente ditas, Medina fez uma defesa da decisão tomada há quase oito anos, quando contratou Joaquim Morão, socialista de longa data e ex-autarca em Castelo Branco e em Idanha-a-Nova, para liderar uma equipa de gestão das obras em Lisboa. “A decisão [da altura] é minha”, confirma Medina, à época presidente da Câmara. “Precisámos de uma pessoa com aquele perfil e aquelas características.”
Mais ainda: o trabalho de Joaquim Morão foi satisfatório, garante. “Ele desempenhou um bom trabalho, foi capaz de assegurar que as obras se realizassem.” Na altura, as “obras em curso envolviam múltiplos serviços”, lembra Medina, justificando assim a necessidade de contratar uma empresa externa. “Até acusavam a Câmara de ter obras em excesso.”
"A decisão [de contratar Joaquim Morão] foi minha. Precisámos de uma pessoa com aquele perfil e aquelas características”
Quanto à suspeita levantada sobre as restantes empresas envolvidas nas buscas, Fernando Medina afasta qualquer questão em relação a esta contratação específica, lembrando que o contrato em causa foi feito por ajuste direto. “Não houve seleção entre outras pessoas”, frisou.
E mesmo o facto de Joaquim Morão ter sido contratado diretamente por Medina, para o ministro das Finanças, não belisca a transparência do negócio. O ex-edil de Lisboa diz que há pessoas de vários partidos que reconhecem “os grandes méritos” de Morão, e que a escolha “não tem nada a ver com critério partidário”. “Podia ser até um histórico social-democrata, e há, aliás, vários competentes.”
Ainda sobre o trabalho de Morão na autarquia, Medina diz que desconhece se existe algum do documento onde possa ser feito o levantamento do trabalho da equipa de missão das obras, que tinha três pessoas, mas que pode atestar da sua própria experiência. “A equipa cumpriu plenamente os objetivos.”
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