Líder da oposição interna a Ventura pondera processo-crime contra Chega
Nuno Afonso (à direita na foto) no Congresso do Chega em Coimbra, em maio de 2021
António Pedro Ferreira
O partido “não se guia por valores democráticos” e “persegue os opositores pessoal e politicamente, como nunca antes se viu em democracia no nosso país”, diz Nuno Afonso. O ex-vice-presidente do Chega viu a distrital de Lisboa retirar-lhe a confiança política e passa a vereador independente em Sintra
O vereador eleito pelo Chega na Câmara de Sintra, Nuno Afonso, diz repudiar “veementemente” o comunicado da distrital de Lisboa do partido, que lhe retirou a confiança política. O documento “tem como intenção única denegrir a boa imagem e afastar aquele que se assumiu há dias como candidato à liderança do partido”, acrescenta o agora vereador independente e ainda vogal da direção do Chega.
Nuno Afonso escreve que o comunicado, assinado pelo deputado e presidente da distrital, Pedro Pessanha, recorre a “insultos, mentiras e ao autoritarismo vigente no partido” e “reflete perseguição política e pessoal reiterada, com elevados danos morais e de imagem”. Sendo assim, o militante número 2 e ex-vice-presidente do Chega afirma ponderar “inclusivamente avançar com um processo-crime contra o partido e os dirigentes em causa”.
Nuno Afonso, ex-vice-presidente, vogal da direção e vereador em Sintra
A distrital de Lisboa do Chega retirou esta quarta-feira a confiança política ao vereador Nuno Afonso, uma decisão que foi validada pelo presidente do partido, André Ventura. A razão invocada prende-se com a viabilização por parte do vereador do Orçamento e Grandes Opções do Plano da Câmara Municipal de Sintra para 2023.
Também em comunicado, o vereador contesta o motivo invocado. “Não é verdade que tenha viabilizado o orçamento em causa, tal como também não tive conhecimento de quaisquer posições do partido. Acusam-me de ter aprovado o orçamento, demonstrando total ignorância e incompetência ao não saberem distinguir a aprovação de um orçamento, competência da Assembleia Municipal, e a viabilização da submissão do orçamento à Assembleia Municipal”, escreve. E esclarece que “o que foi aprovado foi a submissão do orçamento à Assembleia Municipal para este órgão deliberar a sua aprovação ou rejeição”.
Para Nuno Afonso, o Chega “não se guia por valores democráticos” e “persegue os opositores pessoal e politicamente, como nunca antes se viu em democracia no nosso país” no que descreve como “um comportamento típico das ditaduras que existiram e existem por este mundo fora”. “Não tolero este clima de perseguição que levou à realização de um evento para destratar a minha pessoa e outros que, como eu, não concordam com o rumo antidemocrático e totalitarista que o partido tomou” e “leva a que deputados e elementos de órgãos nacionais, incluindo o próprio presidente, apelidem os seus opositores internos de ‘ratos’ ou ‘traidores’”, remata.
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Na semana passada, na sequência de mais um chumbo dos estatutos do Chega pelo Tribunal Constitucional, Nuno Afonso disse ao Expresso que avançará para a disputa da liderança se Ventura puser o lugar à disposição e se conseguir reunir os apoios necessários. “Se há altura para fazer alguma coisa, é agora”, declarou, justificando que o presidente do partido se devia demitir não só por “todas estas trapalhadas jurídicas, que são da sua responsabilidade”, mas também por “mentir deliberadamente aos militantes” para ter “carta branca para tomar decisões”.
Chefe de gabinete parlamentar de Ventura, enquanto este era ainda deputado único, Nuno Afonso foi reconduzido na sequência das eleições legislativas de janeiro, nas quais o Chega elegeu uma bancada de 12 deputados. No entanto, no início de maio, viria a ser exonerado do cargo.
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Nuno Afonso torna-se assim o sexto vereador a passar a independente, pelo que dos 19 vereadores eleitos pelo Chega nas eleições autárquicas do ano passado restam 13 que respondem pelo partido no poder local.
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