Costa diz "perceber bem" saída de Miguel Alves que soube da acusação de forma original
Secretário de Estado demitiu-se esta quinta-feira depois de saber de acusações num processo que envolve autarcas socialistas
António Costa, primeiro-ministro e líder do PS afirmou esta quinta-feira à noite "perceber bem" os motivos que levaram Miguel Alves a demitir-se do cargo de secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, dizendo que este soube que estava acusado de forma "original", pelo Observador.Costa falava aos jornalistas à entrada para a reunião da Comissão Política do PS, depois de questionado sobre o caso que motivou a demissão do seu secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Miguel Alves.
"Miguel Alves entendeu - e eu percebo-o bem -- que, passando a haver uma situação de acusação, devia sair do Governo e exercer o seu direito de defesa. Quero dar-lhe um abraço e desejar-lhe felicidades", declarou, numa alusão às razões que motivaram a saída do seu secretário de Estado do executivo. O líder socialista referiu depois que o Observador, "sem desprimor pelos outros órgãos de comunicação social, tem sido o veículo, a grande fonte de comunicação sobre estes assuntos".
Miguel Alves "disse-me que o Observador noticiou que fui acusado. Perguntei-lhe se tinha sido notificado, e ele respondeu que não. Perguntei-lhe se já tinha falado com o seu advogado, e ele disse-me que também não foi [notificado]. Então, ligue à ministra da Justiça [Catarina Sarmento e Castro], que contacte a senhora procuradora Geral da República [Lucília Gago] para confirmar", sugeriu o líder do executivo. Foi desta forma, de acordo com o primeiro-ministro, que Miguel Alves confirmou que estava acusado num processo por atos praticados enquanto presidente da Câmara de Caminha.
Perante os jornalistas, o líder do executivo disse que fez ainda outra sugestão ao ex-presidente da Câmara de Caminha: "Não se vai demitir só porque o Observador diz que foi acusado".
"Há formas legais e normais de a justiça se relacionar com os cidadãos, mesmo quando os cidadãos são secretários de Estado costumam ser notificados. Pronto, esta foi uma forma original, através do Observador. Mas está confirmado e imediatamente, a partir do momento em que foi confirmado, o doutor Miguel Alves disse: Agora vou apresentar a minha demissão", acrescentou.
O PCP exigiu explicações sobre o caso e defendeu que é preciso tirar todas as consequências. “Face à demissão do secretário de Estado Miguel Alves, o PCP reafirma que é necessário que sejam prestados todos os esclarecimentos, que seja feito o apuramento e tiradas as devidas consequências”, afirmou o grupo parlamentar comunista em comunicado.
A Iniciativa Liberal (IL) considerou, por sua vez, que a demissão de Miguel Alves só peca por tardia e apontou responsabilidade a António Costa face à gestão do caso. “O problema já não era propriamente de Miguel Alves, mas do próprio primeiro-ministro que não só fez a nomeação sabendo dos problemas que Miguel Alves tinha, como há uma semana renovou confiança política ao secretário de Estado”, disse ao Expresso o deputado Rui Rocha.
As notícias da “sobrevivência política” de Miguel Alves eram manifestamente “exageradas”, segundo o deputado liberal, que admitiu ser “óbvio” que o governante não poderia mais manter-se no Executivo.
Para o candidato à liderança da IL, ao prolongar situações destas no Governo, Costa demostra uma “profunda falta de sentido de responsabilidade” e “de total respeito pelas instituições”. “Tudo isto denota que o PM está a abusar da maioria absoluta e é das pessoas que neste momento que mais contribui para a degradação das instituições e Portugal”, reforçou.
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