Política

Das ligações ferroviárias futuras ao plano de interconexões energéticas: Costa e Sanchez "juntos em tempo de crise"

Das ligações ferroviárias futuras ao plano de interconexões energéticas: Costa e Sanchez "juntos em tempo de crise"
ESTELA SILVA/Lusa

Primeiro-ministro português e primeiro-ministro espanhol reiteraram compromissos e entendimentos: ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid é para avançar (não se sabe é quando), ligações futuras entre Faro e Sevilha e entre Aveiro e Salamanca são para estudar, e plano sobre interconexões energéticas, que vai ser detalhado em Alicante, é para apresentar a Bruxelas até 15 de dezembro

Depois de um ano “particularmente difícil”, a recuperar da pandemia e a enfrentar as consequências da guerra na Ucrânia e da crise energética, os chefes de Governo de Portugal e Espanha apareceram na conferência de imprensa conjunta no final da 33ª Cimeira Luso-Espanhola a trocar rasgados elogios, “afetos”, e juras de cooperação mútua: “Vamos unir-nos em tempos de crise”, disse Pedro Sánchez, depois de António Costa ter sublinhado a “transversalidade” dos entendimentos alcançados entre os dois países que, debaixo do chapéu da “inovação”, estão apostados em estreitar as relações transfronteiriças.

Não só no que diz respeito às ligações ferroviárias de alta velocidade que se prevê que venham a ligar os dois países (por Vigo ou pelo corredor de Elvas/Badajoz até Madrid, mas também pelas ligações futuras a Salamanca e Sevilha), como também no que diz respeito ao combate à seca e ao polémico acordo entre Portugal, Espanha e França para as interconexões energéticas. Foi aí que surgiu uma garantia: até 15 de dezembro, o plano de financiamento (quem paga o quê) vai estar fechado e pronto para ser apresentado a Bruxelas.

“Foi de extrema importância o acordo alcançado em torno da solução ibérica que permitiu conter a subida do preço do gás na energia elétrica [Costa chama-lhe mecanismo ibérico, mas Sánchez prefere chamar-lhe “solução ibérica”], assim como foi de extrema importância e capacidade que tivemos de desbloquear o impasse nas interconexões elétricas e de gás entre a Península Ibérica e o resto da Europa”, começou por dizer o primeiro-ministro português na conferência conjunta depois da assinatura dos acordos, em Viana do Castelo. E deixou a garantia: o encontro de Alicante, que se vai realizar no dia 9 de dezembro, e que vai contar também com a presença do presidente francês, vai servir para acertar os detalhes de forma a que seja “apresentado um projeto comum na União Europeia dentro da dala limite, que é 15 de dezembro”.

Também Pedro Sánchez, “ciente do debate público” que se gerou em Portugal sobre as vantagens ou desvantagens do corredor verde de energia e do acordo das interconexões energéticas (que estava num impasse há vários anos), se mostrou empenhado em conseguir um acordo com França e com a presidente da Comissão Europeia dentro da data limite. “Quero garantir que haverá interconexões e que Espanha vai cumprir o compromisso: a 9 de dezembro, em Alicante, avaçaremos com o plano sobre quanto vai custar e quem vai financiar”, garantiu.

O clima, de resto, foi de “afeto”, “orgulho” e “compromisso” mútuo. Nas declarações à imprensa, onde os chefes de governo dos dois países respondiam, à vez, às questões dos jornalistas portugueses e espanhóis, “Pedro” e “António” trataram-se com cumplicidade e afirmaram que as relações entre os dois países nunca estiveram tão bem, apesar do tempo de exceção e de crise que se vive na Europa.

“Tenho a certeza de que as relações entre Espanha e Portugal atravessam um momento excecional (…) Espanha olha para Portugal com afeto admiração e cumplicidade, mas também com a convicção de que partilhamos uma série de interesses que nos permitem agir em benefício das nossas sociedades”, disse o primeiro-ministro espanhol, referindo-se ao facto de os dois governos socialistas da Península Ibérica terem “uma visão clara” dos princípios da “solidariedade, justiça, progresso e bem-estar”. “Temos conseguido que estas duas nações estejam unidas em tempos de crise”, disse ainda, mostrando-se “orgulhoso” das medidas e decisões que os dois governos têm tomado.

Ligação ferrorivária até Madrid, para já, e até Sevilha e Salamanca, para depois

No âmbito do reforço da relação transfronteiriça entre os dois países, Costa e Sánchez reforçaram o compromisso de dar seguimento àquilo que o primeiro-ministro português tem descrito como “a maior obra ferroviária dos últimos 100 anos”. E isso passa, primeiro, pela garantia da construção, até 2025, das pontes sobre os rios Sever (entre Nisa e Cedillo) e Guadiana (Alcoutim e Sanlucar de Guadiana), para melhorar a ligação rodoviária; e, depois, pelo grande investimento ferroviário que parou com a pandemia, mas que tem como objetivo vir a ligar as duas capitais, Lisboa e Madrid.

Este é “o grande desafio do futuro”, afirmou Costa, apostado em garantir no futuro uma “península ibérica mais integrada e ligada entre nós”. A ideia, disse, é manter como meta que até ao final de 2023 ou início de 2024 esteja concluída a construção do corredor Lisboa-Badajoz, focado não só no transporte de mercadorias mas também de passageiros e que sirva de base para garantir a ligação, que será de “alta velocidade” no futuro, entre Sines, Lisboa, Badajoz e Madrid.

Para já, contudo, como já tinha sido anunciado pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Infraeestruturas português, a aposta é no arranque da “primeira linha de alta velocidade entre Lisboa - Porto - Vigo”, para ligar o país de norte a sul e iniciar, através de Vigo, a ligação a Espanha. “A partir daí, vamos construir outras ligações que unam o país a Espanha”, garantiu, dando o exemplo de duas outras rotas que vão agora arrancar a fase de estudos: ligação entre Faro - Huelva - Sevilha, e ligação entre Aveiro e Salamanca. Estas, contudo, “não são para amanhã nem para depois”, admitiu Costa. “Mas podemos começar hoje a estudar essas ligações para, numa próxima cimeira, podermos tomar decisões de forma robusta e com calendário”.

Pedro Sánchez mostrou-se alinhado: “O compromisso de ambos os países para melhorar a ligação ferroviária é claro”, disse, voltando, no fim, a reiterar a boa fase da relação que os dois países vivem: “É com muita satisfação que encaro esta página de amizade e entendimento que estamos a construir”.

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