“Não devemos olhar acriticamente com os olhos de hoje para a (nossa) História mais ou menos distante” e “talvez mais importante, é chegado o momento de olharmos para a nossa História com os olhos dos colonizados e não apenas com os olhos dos colonizadores”, A afirmação é do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, que trocou a comissão organizadora das comemorações do 25 de abril pelo lugar no Governo mas continua a defender a necessidade de “reflectirmos sobre a nossa experiência de democratização, da qual a descolonização é uma marca decisiva”.
Numa entrevista ao Público, Adão e Silva reconhece ter chegado ao Ministério em tempo de ‘vacas gordas’, com recursos como há muito não se via e mostra-se disposto a aproveitar a maioria absoluta socialista para pensar políticas de fundo. Não esconde, aliás, que “o facto de haver um ciclo legislativo longo com estabilidade e previsibilidade foi determinante” para ter aceite o cargo no Governo, que antes recusara.
“É uma enorme alegria para mim, depois de vários ministros da Cultura a quem se criticava a falta de dinheiro, subitamente o problema passar a ser a baixa execução do programa orçamental da cultura”, afirma Adão e Silva, sobre o facto de este ano ficarem por gastar 139 milhões dos 620 de que o Ministério dispunha. “O ano de 2022 é completamente atípico, porque estivemos seis meses em duodécimos”, sublinha, assumindo que o setor vai ter recursos robustos.
Somando os 155 milhões do PRR para a Cultura “em 2023 teremos recursos como nunca existiram”, regista o ministro, reconhecendo que lhe coube tutelar o setor quando “há um corte com o subfinanciamento crónico da Cultura”.
E isso dará para quê? O ministro anuncia: “Vamos cumprir a Lei do Cinema: finalmente uma parte muito significativa das despesas de funcionamento do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) vai ser financiada pelo Orçamento do Estado (OE). É uma grande mudança. As receitas próprias do ICA vão aumentar também bastante. A dotação da Colecção de Arte Contemporânea do Estado (CACE) passa a um milhão. E a Rede Portuguesa de Arte Contemporânea [recentemente criada] vai ter dois milhões de euros”.
Sobre a pesada crise que se vive nos museus nacionais, Pedro Adão e Silva diz que estão “a trabalhar numa solução que não será um remendo”, por forma a “corrigir o retrocesso que houve e ao mesmo tempo ter ambição renovada”.
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