André Ventura acusou António Costa e Luís Montenegro de terem agido em “conluio” na reunião de sexta-feira sobre o novo aeroporto de Lisboa. Em conferência de imprensa na sede nacional do Chega, em Lisboa, o presidente do partido justificou assim o pedido para um debate de urgência na Assembleia da República na quarta-feira. Questionado sobre o estado das relações com o PSD, Ventura classificou-as como “muito mornas” e aconselhou Montenegro a aprender a “lição” das eleições italianas deste domingo.
“O Governo não pode ceder a interesses empresariais ou estritamente financeiros. Há uma lógica de serviço às comunidades”, declarou esta segunda-feira. “O que aconteceu na sexta-feira é tudo o que a democracia não deve ser: um conluio entre dois partidos para tomarem decisões que dizem respeito a todos os portugueses”, prosseguiu. Isto porque “a grande maioria dos portugueses vai pagar este novo aeroporto de Lisboa” e “os ciclos políticos em que este aeroporto vai funcionar vão ultrapassar em muito este ciclo PS-PSD”.
Para Ventura, Costa tinha o “dever” de “envolver todos os partidos” no debate – “ou, pelo menos, os maiores partidos parlamentares” – porque “esta não pode ser uma decisão fechada em gabinete”. Ventura considerou ainda que será “incompreensível para o país” que o ministro das Infraestruturas não esteja presente na quarta-feira, esperando que Pedro Nuno Santos “não mande um secretário de Estado”, o que seria “o sinal maior de cobardia política”. Ainda que esteja “extraordinariamente fragilizado”, Pedro Nuno Santos “continua a ser ministro”, pelo que “tem de responder”, assinalou.
Questionado sobre o motivo por que só agora o Chega decidiu entrar na discussão, depois de saber que o PSD anda há meses em audições internas, Ventura justificou-se com as “outras soluções” que “aparentemente” estão agora em cima da mesa. Uma delas é Santarém, relativamente à qual o Chega não tem uma discordância “de fundo” e que “até parece viável”. Mas o presidente do partido quer saber que “opção é essa”, “porque é que aparece agora” e se “há interesses”. Isto já depois de ter aludido a “suspeitas graves de cedências a interesses privados e pessoais”, sem, no entanto, as especificar.
Relativamente às relações com o PSD, Ventura não deixou de salientar como um “passo positivo” a indicação do líder parlamentar social-democrata para que os seus deputados votassem favoravelmente (sem sucesso) o terceiro nome indicado pelo Chega para a vice-presidência da Assembleia da República. No entanto, acrescentou, que está tudo “num ponto muito precoce”. É preciso ver a atuação noutras matérias, apesar de, por exemplo, em relação ao aeroporto, não atribuir “responsabilidades” a Montenegro (minutos antes, acusara o líder do PSD de “assumir e aceitar que deve vergar-se aos interesses e pactuar com as decisões do PS”.)
Ventura serviu-se das eleições em Itália para destacar a necessidade de “um novo quadro de diálogo” e de os partidos da direita serem “capazes de superar cordões sanitários ou falsos moralismos” para, juntos, conseguirem “enfrentar a máquina que é, neste momento, o PS”. “Eu, Luís Montenegro e, num certo sentido, João Cotrim de Figueiredo [presidente da Iniciativa Liberal] temos de aprender com as eleições de ontem. Só num quadro institucional comum, mesmo assumindo diferenças, só num quadro de concorrência comum é que conseguimos derrubar o PS”, concretizou para, em seguida, fulanizar no presidente do PSD: “É uma lição que Montenegro tem de aprender.” Numa “escala de temperatura”, disse, as relações estão “muito mornas”. “E é assim que vão continuar enquanto o PSD não der sinais de que quer desamarrar do PS e aproximar-se verdadeiramente da direita”, sentenciou.
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