A presidente do conselho de administração da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza, disse este sábado, na Universidade de Verão do PSD, que o debate em torno da Saúde mudou desde a pandemia e criticou o excesso de controlo da despesa no sector.
"Não é a mesma coisa falar de saúde hoje ou há três anos. Não tínhamos esta sensação de urgência e perceção das dificuldades e problemas como temos hoje”, declarou Leonor Beleza no último jantar-conferência na semana de formação dos jovens ‘laranjas’, em Castelo de Vide.
Admitindo que a discussão sobre o tema é muito “ideológica”, a antiga ministra da Saúde apontou para o crescente aumento do financiamento dos privados na prestação de cuidados, voltando a defender a liberdade de escolha.
“Ano a ano, vem sendo mais relevante o financiamento privado da prestação de cuidados de saúde em Portugal, quando confrontado com o financiamento público da prestação de cuidados de saúde”, observou, sublinhando que, em 2020, Portugal gastou 21 mil milhões de euros, dos quais 14,5 mil milhões foram financiamento público e sete mil milhões financiamento privado. Um ano depois, a despesa total aumentou para 23 mil milhões de euros, dos quais 15 mil milhões foram canalizados para o público e oito mil milhões para o privado, acrescentou.
A conselheira de Estado defendeu ainda que há um "controlo minucioso" e "extremamente invasivo" da despesa na Saúde: “Existe alguma perversão na forma como essa necessidade de controlo tem de ser vista. E existe sobretudo uma enorme desconfiança do ministério das Finanças em relação ao ministério da Saúde", atirou, numa crítica ao ministério de Fernando Medina.
Leonor Beleza apontou para o facto de o orçamento dos hospitais estar a cargo do ministro das Finanças, tal como prevê o Estatuto do Serviço Nacional de Saúde, aprovado em agosto e em regulamentação. “Não é pelo ministro da Saúde, é pelo ministro das Finanças", vincou.
Sobre o caos nas urgências dos serviços de obstetrícia, a social-democrata manifestou-se preocupada e reconheceu que se trata de uma situação urgente para resolver. Mas criticou, por sua vez, a corrida “absurda” às urgências nos hospitais: “Isso acontece porque as pessoas não sentem apoio suficiente nas unidades de cuidado de saúde primários”, sublinhou.
Afirmando que tem aumentado o orçamento da Saúde, assim como o número de profissionais, a antiga ministra alertou, contudo, para a necessidade de reformas no sector. “Há alguma coisa no conjunto disto tudo que não está a funcionar bem e, por isso, precisa das tais reformas que não são reformas cosméticas. Não é pôr lá mais dinheiro e mais profissionais. Isso não resolve, há um problema de produtividade”, resumiu.
Mas o principal problema do país, notou, é o baixo crescimento económico: “O nosso grande problema é ver como conseguimos produzir mais, ser mais ricos. Precisamos de compreender como faremos para o país crescer de forma mais sólida”, rematou.
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