Já tinha sido convidado várias vezes, mas só esta quinta-feira Francisco Assis marcou presença na 18.ª Universidade de Verão do PSD, após uma chamada de Luís Montenegro. "Só não vim antes para não ser mal interpretado", justificou o socialista que preside ao Conselho Económico e Social (CES). Assis estava na altura em rutura com a direção do PS e, ultrapassada a desavença, não hesitou em dar agora uma aula aos ‘’jotinhas laranja, em Castelo de Vide.
Uma espécie de “retiro intelectual”, descreveu o socialista, que só lamentou estar na Universidade de Verão um dia depois de Marques Mendes: “Não estou em condições de anunciar [medidas]. Não tenho o mesmo grau de intimidade com o Governo”, disse, entre risos, após o ex-líder dos sociais-democratas ter previsto na quarta-feira que será anunciado um “pacote robusto” de apoios sociais, um “pacotão” mesmo, segundo Marques Mendes.
Assis admitiu, contudo, ter esperança de que o pacote inclua também algumas medidas direcionadas para o sector da agricultura, que atravessa uma “fase muito difícil” e merece por isso um “apoio especial”.
Durante o jantar-conferência, o presidente do CES voltou a criticar a geringonça, afirmando que o acordo que o PS fez com o PCP e o BE, em 2015, tinha riscos: “Geringonça ou não, a história avaliará. Todas as soluções políticas têm aspetos negativos e positivos. Fui contra e não voltava atrás, continua a ser uma convicção muito profunda que tenho”, garantiu perante uma centena de jovens entre os 18 e 30 anos. “Nunca questionei a legitimidade constitucional, nem moral, mas uma opção errada”, insistiu.
Disse ainda não ser a favor de Governos do Bloco Central, apesar de já ter sido acusado disso, mas apelou a entendimentos entre o PS e o PSD sobre "questões de fundo"."Não é normal que os dois maiores partidos não sejam capazes de dialogar permanentemente e até nalguns momentos se entenderem mesmo", observou.
Segundo o antigo eurodeputado e líder parlamentar do PS, se houver um “entendimento mínimo” é possível uma governação sem maioria absoluta, e "sem necessidade de recorrer ao apoio de partidos que têm divergências muito grandes face a partidos mais ao centro."
Já em resposta a uma questão de um jovem, Francisco Assis saiu também em defesa de Marta Temido, que se demitiu esta semana. Elogiou a sua entrega no combate da pandemia” e defendeu que “não há uma varinha mágica" para resolver os problemas da Saúde e nenhuma responsabilidade pode ser imputada a alguém "individualmente”: “Nem à senhora ministra que acabou de se demitir”, vincou.
Alertou para o risco dos populismos e extremismos nas democracias e arrasou ainda o comunicado do PCP sobre a morte de Mikhail Gorbachev. “O marxismo-leninismo hoje, felizmente, não corresponde a uma ameaça no mundo por força de Gorbatchev. O PCP ao lamentar o seu trabalho continua a reconhecer-se no sistema totalitário que matou milhões de pessoas, que condenou milhões de pessoas à prisão e ao silenciamento absoluto", atirou, depois de os comunistas acusarem Gorbatchev de ser “um dos principais responsáveis pela destruição da União Soviética”.
Por último, o presidente do CES deixou uma nota positiva para os jovens, afirmando que a sua geração pode viver muitas dificuldades, mas “também nunca teve tantas perspectivas como agora”. E apontou para a evolução da ciência e da tecnologia. “Apesar de termos algumas preocupações e olhar com preocupação para o futuro, estamos mais fortes para olhar com confiança para o futuro”, concluiu.
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