22 fevereiro 2022 14:09
joão carlos santos
Presidente da Junta de Santa Maria Maior, do PS, criticou a autorização da CML para filmagens noturnas em bairros históricos. Moedas responde com vontade de pôr Lisboa como “grande referência europeia”
22 fevereiro 2022 14:09
Serão oito noites seguidas de filmagens em Lisboa para uma produção da Netflix, com direito a explosões e armas de fogo. Um dia depois de o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, ter criticado a autorização dada pela Câmara Municipal para a rodagem, Carlos Moedas responde nas redes sociais, referindo-se a “uma oportunidade que Lisboa não pode recusar”. Sem nunca citar diretamente a produção da Netflix, cujo tema ainda não é conhecido, Moedas defende que é preciso “voltar a fazer de Lisboa a grande referência europeia e uma verdadeira cidade do Mundo”.
O tema foi trazido a público esta segunda-feira, com um comunicado igualmente publicado nas redes, pela Junta de Santa Maria Maior. É lá que ficam os bairros por onde a produtora nacional Ready to Shoot, em conjunto com uma produtora estrangeira, vai passar, Baixa, Chiado e Mouraria. Para o executivo da Junta de Freguesia, que é do Partido Socialista, a ação prevista para o mês de julho põe em causa “a qualidade de vida, o direito ao descanso e tranquilidade e o direito à mobilidade dos moradores das zonas contempladas”.
Segundo a Junta, estão previstas filmagens com recurso a “efeitos de fogo, armas de fogo, colisões entre automóveis, perseguições com automóveis e motociclos, perseguições de motociclos pelas escadas e escadinhas dos bairros e outros diversos efeitos especiais” nas zonas referidas, durante oito noites seguidas, entre as 18h e as 8h da manhã do dia seguinte. São ações que “não deixarão de provocar um grande incómodo para a população residente, sobretudo para as famílias com crianças e para os idosos”.
Para Carlos Moedas, são outra coisa. “Ter grandes organizações internacionais interessadas em projectar a nossa essência é uma oportunidade que Lisboa não pode recusar.” Na publicação feita esta manhã, o edil lisboeta refere-se “à essência” da cidade, e explica o que entende por essência: “são as pessoas, são as nossas ruas e os nossos becos, são as freguesias e a luz única que ilumina Lisboa”. Mesmo sem se referir à Netflix ou a Santa Maria Maior, Moedas deixa clara a resposta, que termina escrevendo que “só assim”, isto é, não recusando propostas como esta da Netflix, “defendemos quem cá vive e podemos oferecer uma perspectiva de esperança e de melhor qualidade de vida”.
À CNN Portugal, Miguel Coelho contou que foi informado do plano em outubro passado e que, não tendo a Junta competências para proibir as filmagens, o aviso da parte da produtora Ready to Shoot foi “uma cortesia”. E disse ainda que deu nota imediata de que era contra a ideia, mostrando-se “disponível para encontrar uma solução aceitável e com menor impacto negativo”.
Da parte do executivo de Moedas, o Expresso sabe que o objetivo é manter o plano, que é defendido com a experiência das equipas da Câmara neste tipo de produção e, não menos importante, com os retornos financeiros para a cidade, da restauração e hotelaria aos serviços especializados. Sobretudo, numa altura de recuperação pós-pandemia, à qual Moedas também se refere no post nas redes sociais. “Este é o momento de voltar a dar a oportunidade às pessoas de relançarem a sua vida, relançando a cultura, a economia e a inovação.”
Há um último argumento: o que tem acontecido nos últimos dez anos. Neste caso, como noutros, os detalhes das filmagens são tratados entre as produtoras, em conjunto com a Câmara Municipal e a Lisboa Film Commission, criada precisamente há uma década por… António Costa. Meses depois da criação, já em 2013, o à época presidente da autarquia esteve no Festival de Berlim para assistir à estreia mundial de “Comboio Noturno para Lisboa”, de Bille August, e referiu os ganhos “do ponto de vista económico”, mas também “a imagem da cidade que é projetada” e a “visibilidade” que Lisboa teria pelo facto de esse filme ter sido rodado na capital portuguesa. “Recentemente, constituímos uma Film Comission e definimos um conjunto de regras”, disse ainda o agora primeiro-ministro. Essas regras estão em parte plasmadas num guia de recomendações da Lisboa Film Comission, que apresenta ainda, no site, um conjunto de dados sobre as filmagens na cidade e mesmo as “10 razões para filmar em Lisboa”.