Depois de um aviso sobre a importância da vacinação e sobre uma Europa que está a começar a impor de novo algumas medidas de restrição, Marques Mendes entrou no tema inevitável: o Orçamento do Estado, que está a ser discutido pelo Governo e pelos partidos à sua esquerda e que não parece ter, de todo, a aprovação garantida.
A “nega” do Bloco de Esquerda, que este domingo à tarde reiterou a sua intenção de votar contra o OE e apresentou uma lista de exigências ao Governo sem as quais não irá reverter o sentido de voto, é, para Marques Mendes, um “não assunto”, uma vez que “as relações entre o BE e o Governo nunca foram as melhores do mundo” e este voto contra “já era esperado”. Em segundo lugar, explica, o Bloco “já tinha voltado contra há um ano”. E, finalmente, “algumas das condições colocadas pelo Bloco, claro que o Governo ia chumbar, nomeadamente o factor de sustentabilidade da Segurança Social”. Neste momento “estamos numa situação de passa culpas”.
“Um suicídio”
E com o Partido Comunista Português, que se passa? Para Marques Mendes seria “uma irracionalidade” o PCP não aprovar o OE, já que “ganhou nas negociações” e trouxe para casa coisas como o “aumento extraordinário das pensões, creches gratuitas e, ainda que de uma forma faseada, reforços da saúde e em sede de IRS”, disse Marques Mendes.
Resumindo, é assim: “Se o PCP decidir em função de critérios racionais vai viabilizar o Orçamento; se o que prevalecer for a irracionalidade, então vamos ter, pela primeira vez, um Orçamento chumbado”.
Ainda não é certo que o PCP aprove, até porque, segundo o comentador, o factor da divisão interna está a pesar nesta decisão. “O PCP endureceu clarissimamente a sua posição mas continua profundamente dividido em termos internos: o sector sindical ganhou força e o sector autárquico, que tradicionalmente era a favor da geringonça, perdeu força por causa dos resultados das autárquicas”.
Se de facto os comunistas escolherem não viabilizar o OE este ano, Marques Mendes antevê mais um descalabro eleitoral: como explicar aos pensionistas que votaram contra os aumentos das pensões, que eles mesmos exigiram? E sobre os aumentos na saúde? E sobre as creches? São tudo questões levantadas pelo ex-líder do PSD, que, de resto, não tem dúvidas sobre para que lado pende o Governo: “É o Orçamento mais à esquerda dos últimos anos. Quem se pode queixar é a direita e as empresas que não são propriamente estimuladas com este OE. Agora, a esquerda?”. O PCP não aprovar o OE seria “um tiro no pé monumental, um suicídio”.
Combustíveis: para o país e para o PSD
Marques Mendes chamou ainda a atenção para um tema que anda a preocupar o país mas que na realidade é global: o preço dos combustíveis. O conselho: alinhar pelo que os restantes parceiros europeus cobram de impostos sobre a gasolina, já que Portugal cobra bastante mais. “O Governo tem andado aos ziguezagues nesta matéria”, coisa que, diz o analista, “não é um grande exemplo de competência”.
Sobre a sucessão no PSD, o antigo líder do partido considera que neste momento “não é só uma disputa entre duas pessoas, é uma disputa entre dois projetos diferentes para o PSD, duas visões diferentes do partido, duas formas diferentes de fazer oposição”. Ultimamente o PSD anda “muito preguiçoso” sem conseguir captar “quadros” e, por isso, é preciso um “choque de vida” no partido.
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