Ainda nem tinha subido ao palco e já tinha sido aplaudida de pé três vezes. Um por um, (praticamente) todos os dirigentes que discursavam no palco do congresso do PS, em Portimão, agradeciam à ministra da Saúde, Marta Temido, pelo trabalho feito no combate à pandemia e davam-lhe as boas-vindas por se ter juntado oficialmente à família socialista (até aqui, não era militante). Isilda Gomes, autarca de Portimão, foi a primeira, depois foi Mariana Vieira da Silva, depois António Costa, a entregar-lhe o cartão de militante em mãos debaixo de todos os holofotes. Todos falavam no nome dela e o congresso levantava-se para aplaudir. No fim, era ver a ministra da Saúde a ser cobiçada pelos militantes que queriam tirar fotografias com ela.
Nem Pedro Nuno Santos, nem Fernando Medina, nem Mariana Vieira da Silva, nem Ana Catarina Mendes, a estrela do primeiro dia do congresso socialista que decorre este fim de semana em Portimão foi mesmo Marta Temido -- e António Costa. A explicação pode estar numa frase que Miguel Alves, autarca de Caminha, resumiu quando subiu ao palco: "Pensavam que isto era o congresso da pescada, dos secretários-gerais que antes de ser já o eram, mas este não é esse congresso. Este é o congresso do trabalho que fizemos, e que honra o PS, que honra António Costa, que honra o governo e que é o trabalho que vamos continuar a fazer".
Foi isso que António Costa foi fazer quando discursou na abertura dos trabalhos: num discurso virado para dentro, fez a revisão da matéria dada para evidenciar o trabalho feito até aqui, não só na gestão da pandemia, na valorização do Serviço Nacional de Saúde, na importância do estado social para lidar com as crises (tanto pandémica como social), como nas vulnerabilidades que é preciso combater, do trabalho precário à intervenção na TAP, levando a concluir que tinha razão quando dizia que a receita para sair das crises era a "solidariedade" e não a "austeridade".
Mariana Vieira da Silva diria o mesmo pouco depois: "Achavam que só era possível melhorar a vida do país piorando a dos portugueses, diziam que não era possível mas foi possível, diziam que não éramos capazes, mas fomos capazes". Foi possível com o PS, logo, só com o PS é possível fazer a recuperação do pós-crise: "Só o PS tem António Costa, que é uma das vozes mais respeitada na Europa", disse.
O mote era o da vangloriação e foi assim que Marta Temido, a mais recente aquisição do PS enquanto militante, se tornou a estrela da companhia, na qualidade de timoneira do trabalho feito na gestão da crise pandémica. No seu primeiro congresso como militante socialista teve, de resto, lugar de destaque, com Carlos César e António Costa a darem-lhe assento numa das duas Mesas do Congresso, onde têm lugar os mais destacados militantes -- como Pedro Nuno Santos, Mariana Vieira da Silva, Ana Catarina Mendes, José Luís Carneiro, Miguel Costa Matos (líder da JS), Margarida Marques ou Isilda Gomes, a anfitriã na qualidade de presidente da câmara de Portimão.
"Foi tão difícil"
Foi neste contexto de aplausos que Marta Temido subiu ao palco do congresso, onde explicou quem era o verdadeiro responsável por ter aderido ao Partido Socialista: António Arnaut, criador e considerado 'pai' do Serviço Nacional de Saúde, que sempre que se cruzava com a agora ministra lhe dizia que estaria atenta ao que faria pelo SNS. A "responsabilidade" era muita. "Essa responsabilidade só será honrada se formos capazes de aprender com o que esta crise nos tem ensinado", disse Marta Temido entre mais uma vaga de aplausos.
Já na pele de socialista, não resistiu a criticar o PSD e o seu modelo de gestão da saúde: "Onde estariam os cuidados de saúde primários para todos com o modelo de saúde que a direita preconiza? Onde estaria a vacinação que está hoje a ser feita e a chegar a tantos jovens?", questionou, para a seguir admitir que foi "difícil" atravessar o último ano e meio de pandemia. "Foi tão difícil, tão difícil, tantas vezes, ao longo dos últimos meses”, disse, fazendo uma paragem para ser - novamente - aplaudida. "Mas mesmo quando os obstáculos parecem insuperáveis e quando tudo parece ruir à nossa volta, a nossa resposta à crise é diferente [da do PSD]. Aqui no PS, sabemos qual é o caminho certo".
Estava, portanto, apta para receber, das mãos do secretário-geral incontestado o cartão de militante. Foi, de resto, depois de ler a moção de Costa ao congresso, em agosto, que decidiu dar esse passo: "Porque a moção não se limita a retomar no ponto em que estávamos antes da pandemia, quer ir mais longe". Tal como Marta Temido.
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