Política

Atacar o PSD, colar Rio a Ventura, e defender o legado de Costa. O que foram dizer os ‘sucessores’

Atacar o PSD, colar Rio a Ventura, e defender o legado de Costa. O que foram dizer os ‘sucessores’
Ana Baiao

O grupo dos quatro passou a grupo dos três. Com Pedro Nuno Santos a manter o silêncio prometido, Fernando Medina, Mariana Vieira da Silva e Ana Catarina Mendes alinharam-se em tudo o resto: a rejeitar o tabu da sucessão, a elevar Costa a sucessor de Costa e a atacar Rui Rio, colando-o a André Ventura. Pelo meio, Costa tirou uma uma candidata a sucessora debaixo da manga

Chegaram ao congresso a procurar esvaziar o rótulo que lhes colaram: falar do pós-Costa antes de Costa anunciar que vai sair “não é prioridade”. Até porque “os quatro nomes de que falam são quatro nomes que estão com António Costa desde 2014”, lembrou Ana Catarina Mendes. Mariana Vieira da Silva ainda tentaria fugir das câmaras de televisão quando se dirigia para a entrada no Portimão Arena mas, não conseguindo, procuraria fugir do tema: "O futuro é completamente claro: é António Costa e não há mais nada a acrescentar". "A única liderança em que estou empenhado é na câmara de Lisboa", completaria Fernando Medina logo pela manhã.

Todos estavam alinhados: a ordem era esvaziar o tabu que Costa tinha agigantado ao atirar uma decisão para 2023. E todos estiveram alinhados quando subiram ao palco para discursar, defendendo o legado do secretário-geral e primeiro-ministro - que disse orgulhar-se de ter unido o partido e cuja lista para a comissão nacional vai a votos este domingo sem qualquer concorrência - e fizeram mira ao PSD de Rui Rio. Todos menos um. É que, do grupo dos quatro, só Pedro Nuno Santos abdicou de discursar e, tal como já tinha avisado, remeteu-se ao silêncio. Quem cala, consente. Pelo menos por agora. Em vez de Pedro Nuno, foi Marta Temido quem ganhou um protagonismo inesperado -- com o dia a terminar mesmo com António Costa a admitir, aos microfones da Rádio Observador, que a ministra da Saúde, recém-tornada militante, também era uma "possível candidata a sucessora".

Ana Baiao

A primeira a subir ao palco foi Mariana Vieira da Silva, para apresentar a moção política de António Costa, e foi ela que ditou o mote: defender o trabalho feito pelo Governo; defender António Costa e elevar António Costa ao papel de sucessor de António Costa; defender o diálogo com a esquerda parlamentar e, sobretudo, atacar a direita de Rui Rio colando-a à receita da austeridade, por um lado, e à direita “xenófoba” e “populista” de Ventura, por outro. Segundo Mariana Vieira da Silva, o PS deve prosseguir o “diálogo construtivo com todas as forças progressistas” (sem referir os nomes) e o PS é o partido que está em “melhores condições para combater o populismo e a xenofobia com que alguns querem colaborar” (leia-se, PSD). Mais: "só o PS tem António Costa". O suposto ás de trunfo.

Estava dado o tiro de partida para o ataque ao PSD. Fernando Medina viria a seguir. Numa intervenção focada no combate autárquico, o também protocandidato à liderança (que já se pôs de fora, pelo menos até 2025, se for reeleito presidente da câmara), vincou as diferenças entre o PS e o PSD e prosseguiu a estratégia de colagem do PSD ao Chega. Alertando para o risco de legitimação da extrema-direita por parte do PSD, Medina afirmou que, desde as eleições nos Açores, o PSD “começou a fazer um jogo dissimulado sobre a aceitação da extrema-direita no arco da governação”, “aproximando-se na linguagem, no estilo, na agressividade”. “Basta ver como o PSD fala: não para o país, contra os socialistas", disse.

Ana Baiao

Bloco de Esquerda não sai ileso

Mais longe do que Medina só mesmo Vasco Cordeiro, que viveu na pele, nos Açores, o acordo de governação entre o PSD e o Chega, e que subiu ao palco do congresso para alertar para o facto de a história poder repetir-se no continente mais cedo do que tarde: “Está mais perto do que parece”, disse, sugerindo que o PS deve ficar alerta. Rio e a colagem a Ventura foi o tema escolhido por muitos congressistas, como a ministra do Trabalho Ana Mendes Godinho ou até a anfitriã Isilda Gomes, autarca de Portimão, e também não passou indiferente à terceira protocandidata à sucessão de Costa - Ana Catarina Mendes -, que alertou os socialistas para que não se enganem no caminho porque, à direita, “o caminho é o da austeridade”.

A líder parlamentar socialista, contudo, mais do que cerrar os dentes a Rui Rio, quis deixar uma alfinetada ao ex-(ou atual) parceiro de “geringonça”. Sem referir o nome do Bloco de Esquerda, e depois de ter enaltecido o trajeto feito pelo PS nesta que está a ser a “legislatura mais exigente” de sempre, Ana Catarina Mendes lembrou que “houve quem tivesse medo de partilhar connosco o risco da gestão desta crise”. E não se ficou por aí, alertando os socialistas para não irem em cantigas: “Os que prometem soluções fáceis não são responsáveis”. Só o PS tem a chave da crise. Só o PS tem António Costa, disseram os três. Faltou o quarto elemento, que, para não ter de o dizer, calou-se.

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