O seu livro é a primeira biografia substancial de Salazar por um autor não-português em muito tempo. De onde veio o seu interesse?
Senti que havia oportunidade para uma interpretação fresca que se focasse no crescimento, experiências formativas e elementos da sua personalidade, a fim de explorar porquê e como ele conquistou o poder, e de que modos o usou. As biografias anteriores são, e vão permanecer, úteis e importantes. A de Felipe Ribeiro de Meneses é de inegável valor, pois oferece um relato abrangente do trabalho de Salazar como líder político. A obra de Arnaldo Madureira sobre a evolução da ordem política pós-1926 também merece atenção, e estou interessado em ler o último volume que saiu, sobre Salazar e a II Guerra Mundial. O meu interesse em Salazar deriva do facto de ele ser quase sui generis, um líder invulgar para qualquer país ter, independentemente do regime. Veio de origens humildes, numa sociedade estratificada. Em qualquer contexto é pouco habitual um economista sair-se bem como líder político; existem poucos outros exemplos, pelo menos de que eu tenha consciência.
Ele também desfrutava claramente o exercício do poder, mas ao mesmo tempo evitava algumas das armadilhas em que os líderes duradouros por vezes caem. Parece ter escapado à paranóia e ao 'burnout' (desgaste, cansaço) melhor do que não poucos líderes democráticos que estiveram no poder por períodos muito mais curtos do que ele esteve.
Achei que seria um desafio tentar explicar como um monárquico católico - uma figura introspetiva, não carismática - permaneceu à frente daquela que era então apenas a terceira república a instalar-se na Europa moderna, cujas cidades eram viveiros de radicalismo e cujas políticas haviam sido genericamente liberais durante quase um século.
Durante grande parte da sua governação, o seu regime foi de tipo pessoal, portanto prestei atenção a dimensões pessoais que talvez outros tenham achado menos significativas para explicar a durabilidade dele.
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