Política

Salvini (esperado) e partido de Netanyahu (surpresa) foram apoiar Ventura. PSD cancelou e IL também mudou de ideias (sem explicar porquê)

Salvini (esperado) e partido de Netanyahu (surpresa) foram apoiar Ventura. PSD cancelou e IL também mudou de ideias (sem explicar porquê)

Último dia do Congresso do Chega ficou marcado por apoios vindos do estrangeiro (Salvini, de Itália, e uma mensagem do partido de Benjamin Netanyahu, de Israel) e por ausências vindas de dentro. Tanto o PSD como a Iniciativa Liberal tinham confirmado presença mas mudaram de posição. Rio justificou mudança com alteração de circunstâncias: não gostou de ouvir os ataques sem “decência” de Ventura. Iniciativa Liberal não deu justificação

Salvini (esperado) e partido de Netanyahu (surpresa) foram apoiar Ventura. PSD cancelou e IL também mudou de ideias (sem explicar porquê)

Rita Dinis

com Lusa

O último dia dos congressos dos partidos ditos 'grandes' ou, de outra forma, 'do sistema' costumam ser marcados por visitas de delegações de outros partidos portugueses e, por vezes, por representantes internacionais. Era o que estava previsto acontecer este domingo, no último dia de trabalhos do Congresso do Chega, que decorreu em Coimbra. Mas não foi bem assim.

A meio da manhã, o partido informou os jornalistas que PSD, CDS e PPM iriam fazer-se representar no Congresso. Umas horas depois acrescentaria que também a Iniciativa Liberal (IL) se iria fazer representar pela dirigente Carla Castro, que costuma representar a IL nos congressos dos restantes partidos. Do lado do PSD iria estar o vogal da direção António Maló de Abreu e representantes da distrital de Coimbra; enquanto pelo CDS estaria João Paulo Mendes. Ao Expresso, contudo, o CDS confirmou que quem iria comparecer eram dois representantes do partido a nível local e o PSD anunciou, através de um comunicado, que afinal não iria de todo estar presente.

Tinha havido uma alteração de circunstâncias e, como tal, o PSD adaptou-se: não iria estar presente. O PSD não gostou de ouvir André Ventura criticar duramente o líder do partido nos primeiros dias de trabalhos - Ventura apelidou Rio "muito mau líder" e "servente do PS" - e anunciou que estaria fora. "Há limites de decência e de bom senso", escreveu o partido em comunicado, admitindo que apesar de ser normal os partidos atacarem adversários políticos e "teatralizarem" ao máximo nos seus congressos, tinham sido ultrapassados limites tanto na forma como no conteúdo.

Acontece que também a Iniciativa Liberal mudou de ideias. O Expresso sabe que Carla Castro iria estar presente na reunião magna do Chega em representação institucional do IL, mas ao longo do dia terá recebido informações em sentido contrário e não compareceu. O Expresso tentou obter uma justificação junto do partido para esse mudar de posição mas não obteve resposta.

Dos partidos da direita, portanto, só o CDS e o PPM marcaram presença, depois de Ventura ter estado dois dias a dizer que quer que o Chega faça parte de uma solução de governo à direita ameaçando inviabilizar uma coligação que inclua sociais-democratas, centristas e liberais, como nos Açores, se o Chega ficar de fora.

Salvini e Netanyahu apoiam Ventura: Chega “não é xenófobo nem antissemita”

Quem esteve presente este domingo no palco do congresso foi Matteo Salvini, líder do partido da extrema-direita italiana Liga e ex-vice-primeiro-ministro, que subiu ao palco para manifestar o desejo de o partido de André Ventura vir a ser governo, sendo o “primeiro” partido em Portugal. Quando tentou falar em português, contudo, Salvini pediu que o Chega fosse “a primeira festa” e não o “primeiro partido”, confundindo a palavra inglesa ‘party’ que tem o duplo significado.

Num discurso muito aplaudido pelo congresso, o ex-vice-primeiro-ministro italiano manifestou vontade de juntar no Parlamento Europeu as famílias políticas dos populares, conservadores e identitários, incluindo o Chega. "O meu sonho é juntar o melhor destas três famílias para contrastar com os socialistas e comunistas e contra os que são contra a Europa dos povos e da liberdade", disse o convidado do Chega, que também integra o grupo europeu Identidade e Democracia (ID).

Elogiando o "excelente" resultado de André Ventura nas eleições presidenciais de janeiro deste ano, nas quais obteve cerca de meio milhão de votos, Salvini reforçou que é contra a imigração e disse que partilha com o líder do Chega as mesmas ideias sobre o trabalho, a segurança, a família e a liberdade. Matteo Salvini disse ainda que vai ser julgado com muita honra pela falta de auxílio à imigração em situação ilegal para "defender a Itália e a Europa".

Salvini anunciou ainda que vai na segunda-feira visitar o santuário de Fátima enquanto símbolo "porque a Europa é cristã, e Portugal é cristão".

Matteo Salvini ocupou de 2018 a 2019 os cargos de vice-primeiro-ministro de Itália e ministro do Interior, tendo sido o partido mais votado em Itália, mas tendo saído do governo e correndo agora o risco de ficar para trás.

Antes de Salvini, também o eslovaco Ludovit Goga, do Sme Rodina (Nós Somos Família), subiu ao palco para servir de inspiração ao Chega: é que o seu partido entrou no Parlamento com oito deputados e hoje tem 17 e faz parte de uma coligação de Governo com mais três partidos. Ludovit Goga defendeu as “tradições nacionais” e “as políticas de família”, tendo-se afirmado “contra os LGBT”.

E se no sábado um congressista já tinha erguido a bandeira de Israel, no encerramento foi mesmo uma representante do partido de Benjamin Netanyahu, o Likud, que apareceu em vídeo para agradecer o facto de o Chega reconhecer Jerusalém como “a eterna capital de Israel”. “O Chega não é um partido xenófobo nem antissemita”, ouviu-se na gravação.

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