Política

Partidos deviam ter “planos de prevenção da corrupção”. E escolher candidatos com base na ética?

2 maio 2021 23:23

Vítor Matos

Vítor Matos

Jornalista

Guilherme d'Oliveira Martins foi ministro de Guterres, presidente do Tribunal de Contas e da Comissão de Prevenção da Corrupção

antónio cotrim

Com o PS crispado, Guilherme d’Oliveira Martins, que liderou o Conselho de Prevenção da Corrupção e foi ministro de Guterres, chama a atenção para os conflitos de interesses e recomenda “corrigir os erros”. Enquanto no PS há quem queira "campainhas" de alerta para evitar novos Sócrates, no PSD, há uma proposta aprovada em congresso para uma comissão de ética verificar candidatos. Mas a direção não lhe deu andamento.

2 maio 2021 23:23

Vítor Matos

Vítor Matos

Jornalista

Uma “autocrítica", uma “reflexão", ou um “sobressalto ético” no Partido Socialista, já tinham pedido os deputados Pedro Delgado Alves e Isabel Moreira, antes de a Operação Marquês ter contaminado as intervenções partidárias no 25 de Abril com referências à corrupção (só o interveniente do PS, Alexandre Quintanilha, não o fez). No dia seguinte, o ex-ministro João Cravinho criticou António Costa por se abster de tomar posição sobre José Sócrates e citou Marcelo, no “Polígrafo/SIC”, apelando ao PS para “olhar para o passado sem contemplações”. Mas recebeu uma resposta da deputada Constança Urbano de Sousa, que o acusou de ter a "memória afetada” quanto aos pergaminhos socialistas no combate à corrupção. E isso levou Manuel Alegre a classificar, ao Expresso, essas declarações como ”um insulto” ou uma ”canalhice”. Com o caldo entornado, o PS oficial puxou dos galões quanto às leis anticorrupção que vai propor ao Parlamento, e a líder parlamentar, Ana Catarina Mendes, reconheceu, na TVI, depois de pressionada pelos colegas da “Circulatura do Quadrado” ser ”uma vergonha" ir para a política "para enriquecer”: ”Devemos estar atentos a esse tipo de cultura dentros dos partidos”, acabou por admitir, mantendo os argumentos para não comentar politicamente o caso Sócrates.

O próprio Pedro Delgado Alves, deputado socialista na Comissão da Transparência, já tinha assumido no programa “Sem Moderação”, do Canal Q, que “o PS não teve defesas” para prevenir o caso Sócrates, nem “campainhas suficientes" a soar “para o impedir”. Mas para estarem ”atentos”, devem os partidos ter um sistema de alertas para escolher candidatos com base em critérios éticos? Se o PS não tem debatido a existência destes filtros internos, o PSD aprovou uma moção, no último Congresso, para ser criada uma comissão interna de ética, mas a ideia não chegou a ser implementada pela direção.