Caso EDP: Rui Rio sugere que parecer da APA foi alterado com “retoques políticos”. “É muito, muito esquisito”
FERNANDO VELUDO/LUSA
Líder do PSD diz que Costa está a segurar Matos Fernandes como segurou Cabrita e Van Dunnem. "É a cultura dominante", diz, afirmando que se fosse no seu governo ministros já tinham caído. Negócios das barragens continua a aquecer o debate: Rio diz que é "muito, muito esquisito" e sugere que último parecer da APA levou "retoques políticos"
Continua a guerra em torno do negócio da venda de barragens da EDP. Depois da troca de acusações com o ministro do Ambiente, e depois de o PSD ter chamado ao Parlamento o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Rui Rio continua a levantar dúvidas sobre o negócio e sobre a interferência do Governo. Falando aos jornalistas após reunião com o Presidente da República, Rui Rio sugeriu que o parecer técnico da APA foi alterado de negativo para positivo depois de "retoques políticos".
"O ministro vem a público e diz que a APA deu parecer positivo, e esconde dos portugueses que o parecer técnico original é negativo. É depois do parecer técnico que é dada a volta por cima, com retoques políticos, para dizer que afinal [a venda] pode acontecer", diz, sublinhando que o parecer técnico da APA é claro quando levanta as dúvidas sobre a transação.
Para Rui Rio é tudo "muito, muito esquisito" e já remonta ao Governo de José Sócrates e Manuel Pinho. "O governo do PS em 2007 vendeu a extensão da exploração por 13 anos de 27 barragens por 700 milhões de euros, e agora a EDP vende só seis barragens por 2,2 mil milhões -- vejam bem em quanto o Estado acabou por ser burlado. E vejam que quem paga esses 700 milhões por 27 barragens está agora a vender por 2.2 mil milhões só seis. Isto é muito, muito esquisito", disse.
Além disso, Rui Rio insiste que tem um documento que prova que a empresa para a venda foi criada apenas com um funcionário (de forma fictícia), e não com 28 como tem dito o Governo. "Há um esforço do governo em mentir e enganar", disse, questionando o que terá levado à alteração do parecer técnico da diretora técnica -- que era um parecer negativo.
É neste sentido que Rio afirma que, se fosse primeiro-ministro, o ministro do Ambiente já não estaria em funções. Tal como o da Administração Interna e a da Justiça (devido ao caso do procurador europeu). "Eu sempre disse que compete ao PM decidir se os seus ministros continuam em funções ou não, é assim que deve ser. Eu só posso dizer que se fosse eu o PM como é que atuaria", diz, acusando o primeiro-ministro de permitir que os seus ministros "mintam".
Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, com o deputado Hélder Amaral na Assembleia da República