23 outubro 2020 23:00

António Costa sempre deu a entender que o parceiro preferencial era o PCP, enquanto a relação com o Bloco esfriava
nuno botelho
Bloco de Esquerda saiu das últimas negociações sem garantias. Agora, com abstenção do PCP, fica mais livre... ou menos relevante
23 outubro 2020 23:00
A noite já ia longa. As amplas comitivas do Bloco de Esquerda e do Governo partiam pedra há horas, numa reunião marcada depois de a relação entre as duas partes atingir um pico de tensão. O Governo iniciara o encontro com uma novidade: estaria disposto a deixar cair uma das condições para aceder ao novo apoio social, de forma a aproximar-se do BE e permitir que mais desempregados acedessem à prestação. Uma cedência importante, que pode vir a custar mais 150 milhões de euros (a juntar aos 450 milhões já previstos), para tentar apagar uma linha vermelha de Catarina Martins. Foi então que os bloquistas perguntaram: afinal, a condição de acesso seria ou não aplicada aos trabalhadores independentes? Do lado do Governo, hesitação: o ministro das Finanças, João Leão, preferiu não responder ali. Fazendo-se nova mexida nessas condições, seria preciso despejar ainda mais dinheiro. A equipa negocial saiu da sala sem mais esclarecimentos. E o silêncio manteve-se durante três dias, desde essa terça-feira até ontem, quando o Governo enviou uma resposta que... não esclareceu o BE. As duas partes voltaram a não se entender.
Esta sexta-feira, novo episódio. No Parlamento, Mariana Mortágua perguntou a João Leão se, como parece, “não tinha gasto um cêntimo” do Orçamento Suplementar. E ainda se era verdade que o orçamento para o SNS é 143,6 milhões inferior ao previsto no mesmo Suplementar. Leão respondeu-lhe que o OS estava a ser “executado até acima” do previsto na Segurança Social (não se referindo à Saúde) e que para 2021 houve um aumento de “mais de mil milhões” em relação a 2020.