Política

5 de Outubro. Marcelo alinha com o Tribunal de Contas e "repudia compadrios, clientelas e corrupções"

5 de Outubro. Marcelo alinha com o Tribunal de Contas e "repudia compadrios, clientelas e corrupções"
TIAGO PETINGA / Lusa
O Presidente da República diz que o trabalho para sair da crise, não pode ser "mais do mesmo, se for uma oportunidade desperdiçada para mudar instituições e comportamentos".
5 de Outubro. Marcelo alinha com o Tribunal de Contas e "repudia compadrios, clientelas e corrupções"

Vítor Matos

Jornalista

A poucos meses das eleições presidenciais e em plena pandemia, Marcelo Rebelo de Sousa fez o último discurso do 5 de Outubro do mandato com um apelo à resistência no contexto da crise pandémica, apenas perante as mais altas figuras do Estado e os vereadores da câmara de Lisboa, numa cerimónia que decorreu no interior dos Paços do Concelho e não na varanda, como é tradição. O Presidente da República centrou-se no contexto da covid-19 e classificou esta comemoração como a mais "sofrida" dos 46 anos de democracia, avisando que o trabalho para sair da crise, não pode ser "mais do mesmo, se for uma oportunidade desperdiçada para mudar instituições e comportamentos e antecipar de modo irreversível o nosso futuro".

Com os milhões da Europa prestes a chegar, o Presidente acrescentou que "essa mudança valerá mesmo a pena se não servir só alguns portugueses privilegiados e permitir que se ultrapassem pobreza, desigualdadee e justiça social". Mas foi mais longe: na semana em que o Tribunal de Contas apontou riscos de "conluio, cartelização e até mesmo de corrupção" por causa das alterações propostas pelo Governo para acelerar a contratação pública e aproveitar os fundos, Marcelo avisou que a recuperação se deve fazer "em conformidade com a ética republicana, que repudia compadrios, clientelas e corrupções".

Embora seja o primeiro titular de um cargo político a ir a votos no meio da presente crise, Marcelo fez também um apelo contra a "tentação de encontrar bodes expiatórios numa luta que é de todo e não é só de alguns". Se o Presidente da República foi o primeiro a impor o Estado de emergência e a defender uma posição mais dura no início da pandemia, agora que se caminha para um novo um pico de infeções e de internamentos num quadro em que o Governo recusa voltar a confinar, Marcelo sublinhou que "a diversidade é democrática e respeitável" para se referir aos que têm abordagens diferentes para atacar a pandemia: "[Devemos] respeitá-la, buscando a convergência no essencial, evitando o excesso de dramatização dos dois lados".

Num discurso em que foi invocando lições das datas politicamente nobres, sublinhou a necessidade de "agir em liberdade", contra as tentações autoritárias mesmo em nome da saúde pública: "Não queremos ditaduras em Portugal e sabemos que ditaduras por esse mundo fora não resolveram esta crise e porventura nem sequer a assumiram com tempo e transparência".

Sem usar o palco para fazer campanha - isso vai fazendo na rua - Marcelo procurou dizer, através de uma mensagem institucional e o mais consensual possível, que todos têm responsabilidade no desenvolvimento da epidemia. "Temos de continuar a resistir a prevenir, a cuidar, a inovar em liberdade", disse o Presidente, mas também "a saber compatibilizar a diversidade" e a "sobrepor o interesse coletivo aos meros interesses pessoais". Uma declaração que tanto serve para conter a pandemia como para o Orçamento do Estado que será entregue no Parlamento para a semana.

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