Guilherme Fonseca: “Olho à minha volta, estou naquela equipa [de Isto é Gozar com Quem Trabalha] e penso, 'O que é que estás aqui a fazer?'”
Muito mudou desde que Guilherme Fonseca esteve no podcast “Humor À Primeira Vista”. Começou a escrever com Ricardo Araújo Pereira, com Bruno Nogueira e abriu espetáculos de stand-up comedy para Louis CK, no Maxime Comedy Club. Lança agora o primeiro livro a solo, “Deve ser, deve”. Uma viagem humorística pelos negacionismo e a chalupice
O que é que mudou na tua comédia devido a este trabalho de grupo ["Isto é Gozar com Quem Trabalha"] que estás a desenvolver há quatro anos? Acho que há dois pontos em que a minha comédia ou a minha maneira de escrever melhoraram por culpa deles, dos sete. Uma, é no cuidado que passei a ter e que não tinha com a linguagem. O verbo certo, a melhor maneira de escrever esta frase, como é que eu posso fazer esta frase ter mais graça. Ou seja, uma das coisas que aprendi é tirar toda a palha. É uma coisa que já quando escrevi para rádio percebi. Quando tens tempos apertados, se conseguires fazer uma piada com quatro palavras mais vale do que fazeres com dezasseis. E com eles, a escrever este programa, aprendi isso de uma maneira muito mais violenta. Não às chibatadas, mas o processo todo de escrita de, "isto tem de ir para o ar a esta hora, vamos embora, temos pouco tempo, temos de escrever rápido, rápido, rápido. Vamos acabar o guião.” Foi a primeira lição que tirei.
João Pedro Morais
Quando entraste para a equipa de "Isto é Gozar com Quem Trabalha" ficaste com síndrome de impostor? Ainda tenho. Ouve, é inacreditável. Não há semana de trabalho em que não pense, "Guilherme, foca-te. Concentra-te. Trabalha." Porque olho à minha volta, a Cátia Domingues tem imensa graça e descobre pérolas inacreditáveis. O Cláudio Almeida é uma cabeça inacreditável que as pessoas não conhecem, que vem de um mundo diferente e que tem uma organização de pensamento totalmente diferente. O Manuel Cardoso é um pequenino irritante génio que anda de um lado para o outro e que tem uma cultura geral que nem sequer tenho metade. Dos outros três então eu nem vou falar. A Joana Marques eu não preciso de dizer que ela tem graça. E às vezes olho à minha volta, estou naquela equipa e penso, "E tu? O que é que estás aqui a fazer? Tu escreveste um livro estúpido sobre chalupas, estás aqui a fazer o quê?" Todas as semanas tento focar nisso para não me deixar encostar.
João Pedro Morais
A propósito da pesquisa que fizeste para o teu livro "Deve ser, deve", encontraste stand-up comedians negacionistas, certo? Sim, encontrei. Num comício terraplanista que há nos EUA, se não estou em erro, em Las Vegas. Um comediante chamado Owen Benjamin. Ele a certa altura ficou mais ou menos chalupa. Mais ou menos não, ele é mesmo chalupa. Mas ele começou a fazer uma espécie de diretos numa casa remota que tem no meio do bosque, em que tentava provar teorias da conspiração e negacionismos. E ele ia fazer stand-up comedy aos comícios terraplanistas. Não encontrei esses vídeos em lado nenhum.
Gustavo Carvalho faz perguntas sobre comédia. O convidado responde. Sorriem… é humor à primeira vista. Oiça aqui mais episódios:
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