Humor à Primeira Vista

Hugo van der Ding: “Nada se compara à excitação quando estou a escrever. Não encontrei isso em mais nada”

No podcast Humor À Primeira Vista, Hugo van der Ding diz que quer dedicar-se cada vez mais à escrita, revela como conheceu Ana Bola, explica o fascínio por inventar biografias e dá-nos a conhecer a sua visão sobre a série “Family Guy”

Recusa o rótulo de humorista, mas faz rir. Diz que não sabe cantar, mas fez parte dos “Onda Choc”. Também não sabe desenhar, mas lançou agora “O Lixo na Minha Cabeça”, uma compilação das “melhores e piores” tiras que já fez. Quer dedicar-se ainda mais à escrita e diz já ter romances “prontos”.

Inventas várias biografias sobre ti. Não dizer a verdade, porque tem graça, já te colocou em perigo várias vezes na tua vida?
Não sei se me meteu em perigo. Essa história das biografias… eu junto-as. Guardo tudo. E só consegui fazer o livro porque tenho os originais todos guardados em muitas caixas.

Aqui à direita há uma caixa a dizer “Personagens”. São as personagens que vais desenhando nas redes sociais?
Sim, são mesmo muitas caixas. São nove mil tiras nestes dez anos. Estão mais ou menos mil no livro. Esta caixa é onde estão os originais das personagens recorrentes, como a Juliana Saavedra. Mas as biografias começaram como uma irritação, como começa a maior parte das coisas na minha vida. Porque pedem muitas biografias. Tudo a que vás, pedem-te uma biografia. Às vezes em coisas oficiais: a Direção-Geral das Artes, a Câmara Municipal de Lisboa…

E envias uma falsa?
Sim, porque convidam. "Ah, gostávamos de o convidar para fazer não sei quê. Não se importa de mandar a sua biografia?" Eu percebo que é para pôr numa folha. Mas não convides uma pessoa para depois perguntar qual é a sua biografia. Escreve tu. Então eu, irritado, invento uma biografia todos os dias. E há pessoas que acreditam. Ainda agora estive na Feira do Livro, por causa de "O Lixo na Minha Cabeça", e há um senhor muito querido que vem dizer, "não sabia que tinha uma ligação à América Latina".

João Pedro Morais

Tens guardados textos teus de quando eras criança?
Tenho. Comecei a escrever desde muito criança.

Desde que idade?
Desde quando se começa a saber escrever. Sete, oito anos.

E o que é que escrevias?
Escrevi coisas muito tristes, muito negras.

Não no sentido de comédia negra.
Não, a comédia passou para a escrita há pouco tempo, nos últimos dez anos. A minha escrita era uma coisa completamente séria, triste. Não era má.

Porque é que achas que isso só aconteceu nos últimos dez anos? Foi com as ilustrações?
Sim, este humor que eu tenho não inventei para fazer desenhos, sou assim desde criança.

Não te imagino a ser uma pessoa diferente há quinze anos, no sentido de humor.
Sou a mesma pessoa, nem invento uma personagem. Sou exatamente assim, não há construção de personagem nenhuma. Para mim, isto era linguagem de todos os dias. Como eu falo com os meus amigos, como eu falo na rua, como eu existo. E a escrita era uma coisa à parte. Na minha cabeça usava uma voz, que é a voz com que se escreve. Porque até tenho uma relação um bocadinho sagrada com a literatura. Portanto não misturava as duas coisas, a maneira como eu sou e a maneiro como eu escrevo. As tiras mostraram-me que aquilo também pode ser uma linguagem criativa. E experimentei fazer isso. Os temas são iguais, estou a contar a mesma coisa, mas posso fazê-lo através do humor. Tive sorte. Faço rádio, tenho trabalhado como ator, com o Pedro Penim. É o terceiro espetáculo dele em que entro. Vamos daqui a duas semanas fazer uma digressão em França, estou super ansioso por fazer isso.

Como é que se chama a peça?

“Pais e Filhos”, esteve no Teatro São Luís. Vamos a Paris, Toulouse, etc. E é incrível, mas nada se compara à excitação que é quando estou a escrever. Escrever um livro é como se fosse uma linha de metro. Quando tens a história na cabeça, sabes que tens de ir à estação A, B, C e D, e que tens a estação terminal. Em tudo o resto, a maior parte das vezes, estás a encher palha para o caminho das estações. Às vezes, és invadido por uma espécie de vulcão criativo e isso é único. Não encontrei isso em mais nada.

Gustavo Carvalho faz perguntas sobre comédia. O convidado responde. Sorriem… é humor à primeira vista. Oiça aqui mais episódios:

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: humoraprimeiravista.podcast@gmail.com

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