13 outubro 2009 8:00
13 outubro 2009 8:00
No passado dia 27 de Setembro, o PSD perdeu as eleições legislativas. Duas semanas depois, tudo indica que o PSD ganhe as eleições autárquicas.
Nesta sucessão de factos joga-se um drama político: a vocação do PSD como partido de poder bastar-se-á com a consolidação da sua primazia autárquica? Ou, pelo contrário, exigirá a recuperação do protagonismo nacional perdido?
A equação é incontornável e as respostas possíveis traçam o carácter do PSD do futuro.
Desde o 25 de Abril, ao longo de 35 anos, de uma maneira ou de outra, o PSD foi governo durante cerca de 20 anos. Porém, o seu passado recente fez-se sobretudo na oposição. Em 14 anos, esteve mais de 11 afastado do poder. E se esta legislatura se cumprir, esse longo defeso poderá acabar em 15 anos.
Ora, o PSD nasceu orientado para a reforma do país, logo talhado para o poder e, na opinião de muitos dos seus militantes e dirigentes, mesmo fadado para o poder.
Tantos anos longe do poder condenam-no a uma existência 'contranatura', que o povo laranja suporta penosamente. Apartado do poder, o partido de Sá Carneiro agita-se, perde-se em guerrilhas intestinas, entra em derivas autofágicas.
Neste quadro, para evitar o desespero, o poder autárquico tem sido um importante paliativo. Alimenta a máquina, anima as hostes e garante o sentido existencial necessário à sobrevivência.
Mas, ironicamente, aí também radica o perigo. O sucesso do PSD no universo autárquico é tal que pode bem acontecer que toda a lógica partidária de conquista e exercício do poder venha a esgotar-se nele. Paulatinamente, o PSD pode ir perdendo de vista o apelo de São Bento ou da Gomes Teixeira, enquistando-se na política de proximidade e, em cada cidade, freguesia ou lugar, justificando-se a partir dela.
O processo é subtil, mas tem consequências sérias. E a sua reversibilidade não é evidente, nem fácil. Até porque, depois de 27 de Setembro, o CDS espreita - esse focado na política nacional (e, agora, talvez inspirado no exemplo espanhol, aspirando a ocupar um insuspeitado espaço à direita do PS).
Lapidarmente, este ano de 2009, permitindo ao PSD duas vitórias em três possíveis, convoca-o para uma reflexão essencial: a sua própria identidade e o escopo primordial do seu projecto político.
Para o futuro, fica o repto da urgência - a urgência de privilegiar a sua natureza de partido de governo. E, aí, um dado crítico assoma: o PSD tem soçobrado no esforço de mobilização do eleitorado urbano. Consistentemente, de legislatura em legislatura. Ora, para ser alternativa, terá de saber superar tal desencontro.
As razões não são de hoje e estão longe de ser circunstanciais. Mas se, em futuras propostas de governação, o PSD não for capaz da mensagem, do discurso e da visão susceptíveis de seduzir também o eleitorado urbano, definhará. Inexoravelmente.
Texto publicado na edição do Expresso de 9 de Outubro de 2009