Sofia Galvão

Não deixar tudo como está

31 agosto 2009 8:00

Sofia Galvão (www.expresso.pt)

Sem surpreender, o PS propõe mais do mesmo. Já o PSD recusa os truques e ilusões dos últimos anos, apostando num discurso mais difícil feito de verdade, exigência e realismo.

31 agosto 2009 8:00

Sofia Galvão (www.expresso.pt)

Vozes autorizadas, como Vasco Pulido Valente ou José Manuel Fernandes, têm vindo a alertar-nos para as razões profundas que fazem do marasmo português uma inevitabilidade histórica. No essencial, lembram a nossa ancestral resistência à mudança, o nosso atávico horror ao conflito, a nossa endémica tendência para nos deixarmos embalar pelo vento que sopra, o nosso tradicional apego ao pequeno que tolhe a ambição de horizontes mais largos, a nossa típica concentração no imediato com a decorrente indiferença ao sentido do devir que prepara o futuro.

País homogéneo, com fronteiras seculares, poupado à maioria das grandes convulsões que marcaram a história europeia, Portugal fechou-se, atrasou-se e acomodou-se. Paulatinamente, fez da paz podre o seu ambiente natural. E nesse caldo cultural pariu, criou e formou sucessivas gerações.

Numa síntese brutal, Vasco Pulido Valente é lapidar: "nada nos divide e quase nada nos move".

Mas, embora tentadora, tal conclusão não é evidente. E, hoje, está longe de poder ser pacífica.

Se é verdade que há uma certa moleza colectiva, que prefere a placidez do consenso ao incómodo do confronto, também é certo que os tempos não estão de feição para impasses ou indefinições. A hora é de mudança. Com mais ou menos consciência da complexidade do fenómeno, todos nós intuímos o óbvio: o mundo do passado que conhecemos não será mais o mundo do resto das nossas vidas. E Portugal, goste ou não da ideia, está inelutavelmente envolvido neste momento de transformação.

Portanto, seja qual for a força da inércia psicológica portuguesa, a actualidade exige-nos escolhas. E, para tanto, é essencial assumir divergências e alternativas.

Na semana em que o eng.º Sócrates ficou a conhecer o Programa Eleitoral do PSD, e com isso perdeu um dos seus mais obsessivos motes de pré-campanha, é patente que PS e PSD apontam dois caminhos e dois caminhos contrastantes. Na atitude, no enfoque, nas prioridades, na substância do Portugal a construir.

Sem surpreender, o PS propõe mais do mesmo. Já o PSD recusa os truques e ilusões dos últimos anos, apostando num discurso mais difícil feito de verdade, exigência e realismo.

É que, enquanto a propaganda do Governo avança impante, meio país morre sem remédio. Incapazes de competir, soçobram, um após outro, os sectores expostos à concorrência internacional. A economia cava um abismo de dez anos e o desemprego expõe o drama de mais de meio milhão de famílias. Como pano de fundo, uma imensa falta de perspectivas e um Portugal triste, baço, sem esperança.

É claro que mudar ou não mudar será uma opção política. Mas é errado acreditar que a política só vale a pena quando assume riscos e arregaça as mangas, disposta a não deixar tudo como está?

Sofia Galvão