14 setembro 2009 8:00
14 setembro 2009 8:00
Mundo fora, politólogos diversos têm defendido a tese de que o resultado de uma eleição depende, sobretudo, do desempenho do partido incumbente.
Formula-se assim, com foros de teoria científica, algo que quase todos intuem: na hora da disputa eleitoral, deter o poder constitui uma vantagem objectiva. É mais fácil aceder ao poder a partir do próprio poder do que a partir da oposição. Ou, por outras palavras, é mais difícil conquistar o poder do que mantê-lo.
O axioma é o seguinte: se existir a percepção de um bom desempenho do partido incumbente, é absolutamente improvável que este perca as eleições. Portanto, só há condições para a mudança, se a percepção da governação for negativa (e, decorrentemente, só então assumem efectiva relevância a prática e os programas políticos da oposição).
Ora, a grande questão é saber quando e como pode prever-se um resultado eleitoral a partir da ponderação dos dados concretos que subjazem à percepção popular. E, entre nós, a duas semanas de legislativas, o exercício é tentador.
A hipótese de importar, sem mais, um dos muitos modelos propostos para obter uma antecipação credível do resultado das urnas, não é possível - diferenças significativas entre as realidades políticas e os sistemas eleitorais dos vários países inviabilizam-na. Mas há contributos que merecem, mutatis mutandis, a maior atenção.
Assim, se pensarmos no modelo preconizado por Allan J. Lichtman, com as suas célebres "keys to the White House", e considerando que das 13 questões formuladas três são manifestamente inaplicáveis em Portugal, há que contabilizar, no mínimo, cinco respostas desfavoráveis a José Sócrates e ao Partido Socialista: os votos não se concentrarão em apenas duas escolhas possíveis, a campanha eleitoral decorre num contexto de crise económica, o mandato não atingiu níveis de crescimento do PIB per capita superiores às duas legislaturas anteriores, o mandato foi marcado por diversos focos de perturbação social, o mandato foi afectado pela denúncia e pela investigação de escândalos. Ora, aplicando o rácio sustentado por Lichtman (e cinco em dez é mais do que seis em 13...), a conclusão indiciaria um cenário de vitória do PSD.
Para lá das sondagens, portanto, e se os padrões portugueses de decisão do voto forem equivalentes aos americanos, é razoável esperar que a percepção negativa da qualidade da governação custe a reeleição a Sócrates e ao Partido Socialista.
A confirmar-se, tal revelará a prevalência de um mais forte e actuante medo de não mudar sobre o atávico medo de mudar.
No fundo, talvez a sabedoria popular esteja capaz de intuir que Sócrates relegitimado se sentiria um Sócrates reabilitado - e isso, conhecidas as idiossincrasias, depressa nos faria ter saudades destes últimos quatro anos e meio.