16 julho 2007 8:00
16 julho 2007 8:00
Participei, em 4 de Julho, em Madrid, num colóquio sobre a América Latina, organizado pela Fundação Vargas Llosa. Os painéis e os temas quentes eram sobre Cuba e a Venezuela de Chávez e a sua influência crescente na região andina e aos biliões de dólares que vai usando para espalhar pelos amigos e correligionários políticos. E mais grave, Chávez entende-se com as FARC colombianas e só o ano passado deu oito biliões de dólares a Cuba.
E, internamente, está a seguir um plano claríssimo de controlo de todos os instrumentos do poder, nomeadamente das Forças Armadas; e os "media" não conformistas são encerrados e a oposição 'comprada' ou silenciada.
Chávez é articulado sob a capa de um populista básico, tem boa assessoria político-estratégica, está a equipar bem os militares e a seguir um plano estruturado.
Seguindo Carlos Eduardo Montaner, Plínio Apuleio Mendoza e Álvaro Vargas Llosa, das duas esquerdas latino-americanas a herbívora e a carnívora sendo a herbívora a moderada, democrática, aceitando o mercado e as suas misteriosas e subterrâneas 'mãos' económico-financeiras e a carnívora (a de Castro, de Chávez, do indigenismo) a carnívora está a ganhar e tem em Castro e Chávez uma dupla temível.
Dantes, havia sempre os militares e a CIA. Os militares, desde que os seus homólogos dos golpes dos anos 70 foram para a cadeia, não se mexem. E a CIA não chega para os fundamentalistas islâmicos.
Dito isto, quero confessar que o meu fascínio pelo Continente é cada vez maior: o outro dia, ao voar de Madrid para Bogotá, dos 30.000 pés cá de cima, olhei lá para baixo, ao tocarmos a América a água azul-verde do Caribe, a selva a pino sobre o mar, as lagoas, os rios paralelos, os picos nevados dos Andes ao fundo, estas tardes com esquadrões de nuvens ainda ensolaradas, num dia que vai acabando...
E os livros, que continuam fascinantes. Acabei o 'Ursúa' de William Ospina. 'Ursúa' é um jovem conquistador do planalto colombiano no século XVI, mas a propósito da sua "vita brevis", Ospina, um grande ensaísta e moralista colombiano (a Colômbia não é só os narcos, a violência e o magistral Garcia Marquez) traça uma história do primeiro meio século da Conquista das Américas e dos conquistadores dos irmãos Pizarro, a Balboa, a Cortez, a Almagro desses 'espanhóis' que apareceram aos índios americanos, como demiurgos ou centauros cruéis, com os seus cavalos, os seus cães ferozes, as suas armas de raios e trovões assassinos. Obcecados pelo ouro e pelos túmulos do ouro; e levando, como Deus, um homem escanzelado, esfarrapado, agarrado a um madeiro. Eles que tinham deuses solares, com carantonhas de feiticeiros, e deuses vivos com caras de faraós cínicos ou melancólicos. 'Ursúa' está, para mim, ao nível do 'Reino deste Mundo' e do 'Recurso do Método' de A. Carpentier.
Na noite de domingo, 8, para compensar e equilibrar visões destas malvadezas 'ocidentais' vi, finalmente o 'Apocalypto' de Mel Gibson. Gostei muito.