11 junho 2007 8:00
11 junho 2007 8:00
O actor de teatro e cinema, realizador, empresário, argumentista e escritor Jean-Claude Brialy, que morreu de cancro na sua casa de Monthyon nos arredores de Paris no passado dia 30 de Maio, foi um dos homens de espectáculo mais activos e apreciados na sua França natal e deixou também o nome ligado à história universal do cinema pois, juntamente com Jean-Paul Belmondo e Jean-Pierre Léaud, foi um dos galãs preferidos dos cineastas franceses da 'nova vaga' e do seu público se se podem chamar galãs os protagonistas das fitas dessa época de Claude Chabrol, de François Truffaut, de Jean-Luc Godard. (Sem esquecer 'Le Genou de Claire', de Eric Rohmer). Seja qual for o nome que se lhes dê, porém, o cinema da "nouvelle vague" francesa mudou a sétima arte na Europa e deixou também marcas em Hollywood. Brialy, nascido em 1933, e a nova maneira de fazer cinema encontraram-se quando o actor encetava a sua carreira e estavam calhados um para o outro. A fita que o consagrou no género, 'Le Beau Serge', de Chabrol, foi rodada em 1958 quando, aos 25 anos, já entrara em 19 filmes (entre os quais sete curtas metragens). Viria a entrar em mais 132, alguns destinados à televisão.
Para esta fez o que foi o seu último grande sucesso, 'Monsieur Max', realizado por Gabriel Aghion, em que desempenhava o papel do poeta Max Jacob, homossexual como ele mas, ao contrário dele, atormentado pela sua homossexualidade, judeu convertido ao catolicismo que a Gestapo prendeu em França em Fevereiro de 1944 e deixou morrer de pneumonia no infame campo de transbordo de Drancy, onde judeus e judias, adultos, velhos e crianças eram arrebanhados à espera dos comboios que os iam levando para Auschwitz.
A azáfama criativa de Brialy não se revelava só na sua carreira de actor. Realizou 13 filmes, tendo também escrito o argumento de seis dentre eles, e toda a vida trabalhou para o teatro. No teatro começara, de resto a sua actividade profissional. Filho de coronel do exército, nascera em Argel, viera em criança para a metrópole, seguira o pai de cidade de guarnição em cidade de guarnição, dando consigo em Estrasburgo no ano em que acabou o liceu. Aí encaminhou-se para o excelente Conservatório da cidade onde o seu talento foi reconhecido e ganhou prémios. Mais tarde foi proprietário e director de um teatro em Paris e pôs peças em cena também noutros teatros. Já entrado em anos, escreveu vários livros autobiográficos que tiveram sucesso crítico e venderam bem.
A pouco e pouco a personalidade que transparecia dos filmes e da cena foi ganhando a estima dos seus concidadãos, além da admiração pela habilidade do artista. Calavam fundo o humor, nunca maldoso, a decência, a elegância moral, a sua dedicação aos amigos, a preocupação com males que atingiam gente próxima de si como, por exemplo, a sida. Ao combate a esta deu dinheiro, capacidade organizativa e, o que era raro em homem tão discreto, o seu nome, por achar que tal poderia ajudar outros. Era um homossexual assumido em quem a homossexualidade nunca provocara angústias ou tormentos morais, embora no começo da sua carreira ninguém falasse de tais coisas em público. Era, como disse mais tarde em entrevistas, tão natural nele quanto a heterossexualidade; tivera em novo casos com homens e mulheres e acabara por descobrir que preferia homens.
A discrição proverbial acompanhou-o até ao fim. Mesmo amigos e amigas chegados ignoravam que já há tempo travava combate contra o cancro e foram apanhados de surpresa pela sua morte. Nos últimos meses, Brialy que gostava do recato dos cemitérios fora ver partir colegas amigos: Gérard Oury, Philippe Noiret, Jean-Pierre Cassel. No seu enterro esteve o "tout Paris" do espectáculo e muito mais gente, incluindo o Presidente da República. Sarkozy falou curto e bem: disse que com Brialy desaparecia um humanista guloso, um memorialista inesgotável, uma sentinela da noite, da festa e da poesia.