24 junho 2009 8:00
Onde o nosso Comendador, eivado do espírito comercial, segundo o qual o cliente tem sempre razão, propõe Testes de Governo antes de o eleitorado escolher qual Governo quer.
24 junho 2009 8:00
O povo, na sua total e desprezível ignorância da ciência política, é sábio. Por exemplo, logo após a chamada 'viradeira', em 1777, movimento que correu com o déspota esclarecido que foi o Marquês de Pombal e pôs no seu lugar um grupo de beatos reaccionários, dizia sabiamente o povo: "Mal por mal, antes o Pombal!"
Um problema dos políticos é igual, aliás, ao dos automóveis: por fora todos têm um ar muito simpático e lustroso, mas é com o uso que se vão percebendo as manhas, as manias, as imperfeições, os defeitos e até aqueles barulhos irritantes que pode fazer o tablier ou o Dr. Augusto Santos Silva a discursar no Parlamento.
O mercado automóvel resolveu a coisa muito bem, inventando o test-drive. O meu ponto, baseado justamente na experiência daquela indústria, que vivendo agora à custa dos governos até já se confunde com eles, é implementar (boa palavra política) o Gov-Test. Este teste pode ser realizado facilmente se dermos uma hipótese de governação a cada solução possível - antes das eleições!
Digamos que se guarda aqueles seis meses últimos em que habitualmente só se fazem asneiras (aprovação do Freeport ou do Siresp) para fazer os ensaios. Veríamos os governos prováveis, tipo PS sozinho, PSD sozinho; as soluções já experimentadas, como PSD/CDS e PS/CDS e as quase impossíveis - PS/PCP/BE ou PSD/Laurinda Alves/Rui Tavares/EDP Renováveis (esta última é só para dar ideia da amplitude das soluções possíveis, que vão até PCP/Filha de Zedu/GALP/Semanário 'Sol'/ ou CDS/Moura Guedes/TVI de Sexta/Filipe La Féria).
Durante as semanas (duas ou três) em que cada Governo estivesse em teste, o Gov-Teste, seria obrigado a resolver o desemprego, um veto de Cavaco, uma manif. de profs, uma visita de Hugo Chávez, um bug no Magalhães e uma crise bancária (duas, se uma se revelar pouco).
Posto isto haveria eleições. Cada um escolheria - então sim -, livre e desapaixonadamente, aquele que lhe tivesse apresentado melhores soluções.
O que o povo não poderia dizer era que não sabia. Porque durante o Gov-Test o Dr. Vasco Pulido Valente diria mal à vontade da solução em análise, o Dr. António Marinho e Pinto podia dar berros na televisão e o Prof. António Barreto faria os seus discursos lúcidos, enquanto os debates da TV prosseguiam. A má-língua, suspeição, mesquinhez e oportunismo, próprios dos programas que abrem a antena à participação do povo, prosseguiriam também como sempre.
A vantagem para o actual sistema é imensa. Reparem: teria havido maioria absoluta de Sócrates se o conhecêssemos bem a ele e ao seu governo? Paulo Portas teria sido ministro da Defesa com o sistema que eu proponho? Santana teria passado três meses pelo Governo? Haveria Ministério da Agricultura? Maria de Lurdes Rodrigues teria sido ministra? Enfim, quanto da nossa História recente teríamos mudado acaso tivéssemos seguido o modelo certo de escolher governos?
O Gov-Teste é, pois, a varinha mágica da crise política. Ainda estaremos a tempo de o testar para as próximas eleições, se o teste for só entre o PS, PSD e as coligações habituais. Eu queria experimentar os governos antes de eles me usarem! Gostava de ver o Louçã duas semanas como ministro da Educação! Gostava, gostava! Queria confirmar que Santos Silva é mesmo pior do que Miguel Portas, que Pacheco Pereira é igual a Lurdes Rodrigues, ver se Jerónimo aumentava mesmo o salário mínimo e se Sócrates seria o menos simpático dos possíveis primeiros-ministros. A ver vamos se não diríamos 'mazela por mazela antes a Manela' ou 'ralé por ralé, antes o Zé'.
Comendador Marques de Correia