8 julho 2009 8:00
Onde o nosso Comendador explica e divulga a origem do vento que, soprando de diversas origens, provoca o chamado air du temps, ou seja, uma coisa em francês que ocorre em Portugal.
8 julho 2009 8:00
Um dia perguntaram-me o que era o 'ar do tempo'. O célebre air du temps de que falam canções e poetas. Pois bem, eis uma questão a que não é fácil responder. Apesar de ser simples saber o que é o ar e o que é o tempo, o ar do tempo é uma das mais complexas perguntas que podem ser feitas, mesmo a um homem como eu - sábio!
Lembrei-me, porém, do seguinte: se um político vence umas eleições, por exemplo, umas europeias - sendo que três meses depois tem umas legislativas -, é natural que fique inchado. Eu mesmo já aqui sublinhei essa notável lei da Física que permite a um homem ou mulher inchar, não em função do que já tem, mas sim daquilo que espera ter. Digamos, pois, que esse político incha, ou seja, fica cheio de ar, como costuma dizer o povo.
Esse homem, inchado e vitorioso, teve de ir buscar a alguém o ar que agora o enche. Isto é certo, tendo em conta as imutáveis leis de Lavoisier (as quais, por não terem sido aprovadas pela actual Legislatura, são bem feitas e praticamente à prova de bala - o mesmo se passa, aliás, com outras leis antigas, como a da gravidade ou a da atracção universal, etc., etc., que não foram escritas por juristas com a 4ª classe mal tirada).
Voltando ao ponto, porque me perco facilmente, o ar que um homem (ou mulher) consegue - deixemo-nos de subtilezas e digamos os nomes -, o ar, pois, que agora inunda a dupla Rangel/Ferreira Leite veio de algum sítio, para que Lavoisier não seja desmentido. Ora, basta olhar à volta para perceber de onde. Basta verificar que Sócrates mete água que se farta e que Santos Silva (por mero exemplo, e não que eu embirre com ele, longe disso, que o homem é adorável) também mete muita água, mais ainda do que Sócrates. Ora, o povo, que é sempre sábio, diz: "Olha, a arrogância destes gajos foi um ar que lhe deu." Aqui está, pois, a origem do ar que agora se infla nos peitos do PSD.
Esta deslocação de ar, que pode provocar uma ventania, uma autêntica tempestade política, é aquilo a que podemos chamar o 'ar do tempo'. Basta ver que Sócrates, sempre tão genial até às europeias, passou claramente a não ter jeito para a política, ao passo que Manuela, sempre tão desajeitada, passou a ser uma mulher cheia de atributos políticos e com planos absolutamente infalíveis e determinados.
Sócrates dá uma entrevista - é péssimo! Manuela dá uma entrevista - é óptima! Sócrates inaugura uma coisa - não tem interesse! Manuela suspira - tem um significado de elevado alcance.
O ar do tempo, meus amigos, é isto. Que se pode fazer? Como podem os políticos contrariá-lo?
É impossível! O ar do tempo é inelutável e sempre injusto, independentemente de que sítio sopra. Analistas vários tentam responsabilizar as televisões e os jornais pelos seus efeitos, mas isso é como responsabilizar o Instituto de Meteorologia pelo facto de chover no Verão.
Não há nada a fazer. O ar de uns enfuna-se, o de outros vaza-se. Há balões de oxigénio, há velas que se rompem e há fenómenos que mudam o sentido ao vento. É isto que espera quem o tem contra e que tenta impedir quem o tem a favor. Mas, ainda assim, se deixarem o ar circular, ele acaba sempre por passar de um lado para o outro. E nós, que estamos no meio, tanto apanhamos do que vem da direita como do que vem da esquerda.
É que não se pode parar o vento com as mãos...