As velas do nosso confinamento

Na crónica ‘Sem Preço’ desta semana, a jornalista Catarina Nunes escreve sobre o crescimento da diversidade e das vendas de velas perfumadas de luxo, durante a pandemia
Na crónica ‘Sem Preço’ desta semana, a jornalista Catarina Nunes escreve sobre o crescimento da diversidade e das vendas de velas perfumadas de luxo, durante a pandemia
Nem a vacina nem o desconfinamento estão a ‘apagar a chama’ das velas perfumadas, que se encontram entre os produtos com crescimentos de vendas mais acelerados desde o início da pandemia. Mesmo com a perspetiva do regresso a uma normalidade menos caseira, multiplica-se a oferta de tudo o que melhore a experiência olfativa entre quatro paredes.
Aliás, ainda antes de o coronavírus ser dado como uma ameaça global, em janeiro de 2020, as velas perfumadas vivem um momento disruptivo, com o lançamento da inusitada vela de Gwyneth Paltrow, This Smells Like My Vagina. Para os menos hábeis no inglês significa Isto Cheira Como A Minha Vagina, em tradução livre. Com um preço de 75 dólares (€63), o dito aroma, afinal, é uma prosaica mistura de gerânio, rosa de damasco, bergamota e cedro. Escusado será dizer que se revela um fenómeno de vendas imediato.
A moda pega e, em fevereiro, é a vez de Erykah Badu seguir o filão, mas neste caso com o Badu Pussy, feito a partir de cuecas usadas pela cantora… queimadas e transformadas em incenso. Sim, leu bem, é isso mesmo. Mais: cada embalagem custa 50 dólares (€42) e o primeiro stock esgota em 20 minutos, bem como os seguintes. Com isto fica mais ou menos claro que, ou há um interesse em relação ao cheiro dos genitais de algumas celebridades, ou as fragrâncias para casa (sejam lá quais forem os aromas) estão na lista de prioridades. Por cá, os portugueses estão não só a comprar mais ambientadores e velas, como estão a optar por produtos destes com preços mais elevados.
O gasto médio em euros neste tipo de produtos em Portugal está a subir 11%, enquanto as quantidades médias de compra aumentam 8,3%, no período entre 27 de janeiro de 2020 e 31 de janeiro de 2021, de acordo com os dados do Painel de Lares da Kantar. Desde o início do primeiro confinamento, a procura é acompanhado pela maior variedade, em particular com a associação a nomes de celebridades. As velas em causa, essas, são bastante menos gráficas do que as de Gwyneth Paltrow e Eryka Badu. Mais à frente iremos a esse recordatório.
Agora, a iminência (ou expectativa coletiva) do controle da pandemia e do regresso à vida fora de casa, não está a fazer abrandar o aumento das marcas e das coleções de perfumes para a casa. E este é, cada vez mais, um mundo infinito de opções, em particular no segmento de luxo. À crónica desta semana trago a Baobab Collection, criada na Tanzânia em 2002, cuja história não é conhecida nem é revelada pelos atuais proprietários, uma empresa belga. Menos secreta é a notoriedade da Baobab, devido às características das suas velas que, dependendo do tamanho, têm capacidade para arder durante entre 60 e 800 horas. Grosso modo, isto significa ter o pavio aceso durante dois dias e meio e mais de um mês, se nunca for apagado, o que na prática dará uma duração muitíssimo mais prolongada.
Aproveitando a chegada da primavera, a Baobab apresenta-se com novas linhas de produtos, que fazem viajar até grandes cidades ou a cenários de natureza selvagem. Três das novas coleções são inspiradas nas grandes florestas do planeta, nas folhas de palmeira e em Madagáscar. O vidro soprado à mão (opalino na coleção Rainforest e transparente na coleção Palm) e o croché de ráfia (na Ravintsara) são as opções em termos de materiais. Ambas as coleções Cities e My First Baobab, por seu lado, são compostas por velas com nomes de cidades e em vidro serigrafado à mão. Esta última destaca-se por ser uma de linha de entrada na marca, por ter velas de menor dimensão e, por isso, mais baratas (€45). Isto não significa, porém, que haja uma atenção menor à sofisticação dos detalhes: as serigrafias das oito velas A Minha Primeira Baobab são em ouro de nove quilates e com desenhos em platina.
Mais corriqueiras, mas com uma projeção planetária incomparavelmente maior, são as velas e as suas variantes lançadas por celebridades ao longo de 2020, não contando com aquelas (bastante insólitas) referidas no arranque desta crónica. A avalanche de velas perfumadas em nome próprio concentra-se nos últimos meses do ano. Em novembro, Alicia Keys estreia a sua nova marca, Keys Soulcare, com um único produto: uma vela. Nesse mesmo mês, Drake segue o mesmo caminho com a linha Better World Fragrance House e antes dele já as irmãs Kim Kardashian e Kylie Jenner se tinham posicionado, com o lançamento de velas perfumadas. Nem os veteranos Anthony Hopkins e Michelle Pfeffeir deixam escapar a oportunidade de capitalizar a transformação da casa no novo espaço, onde a vida toda acontece, e engordam o segmento das velas e difusores. Quem é que se seguirá?
Baobab Collection
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: CNunes@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes