Ao longo dos últimos anos, é possível verificar picos preocupantes no consumo de novas substâncias psicoativas, constituindo um desafio significativo para a saúde pública. Com o aumento considerável de consumidores, surgiu a necessidade destes procurarem opções mais acessíveis e económicas, o que levanta preocupações, uma vez que a toxicidade destas novas substâncias é geralmente muito superior às que são controladas. Neste sentido, a adição de novas substâncias psicoativas, ou completa substituição, das drogas controladas vendidas nas ruas, gera problemas de saúde muitas vezes com consequências letais.
Perante este fenómeno, coloca-se a questão: de que forma é possível reverter esta tendência de consumo de novas substâncias? A primeira ilação a retirar é que os consumos são inerentes à humanidade, portanto é muito difícil reverter uma situação deste tipo. Contudo, podemos ter um papel de consciencialização que alerta para os riscos que as pessoas correm, de forma a diminuir os consumos em certas situações, tornando a sociedade mais conhecedora dos factos. Por outro lado, é necessário que os relacionamentos humanos sejam mais empáticos, porque a forma como nós lidamos uns com os outros é destruidora e instrumental, criando um vazio do ponto de vista emocional, sendo que estes comportamentos, em muitos casos, levam ao consumo de drogas. Posto isto, e se queremos uma mudança, é necessária uma abordagem social de grande escala.
Nesta ótica de consciencialização e de responsabilidade social, os centros de investigação e o ensino superior têm um papel muito importante. Por exemplo, o caso da parceria entre a Egas Moniz School of Health and Science e a Associação Kosmicare, em que desenvolvem metodologias que permitem uma identificação mais fácil destas novas substâncias e da sua toxicidade, e que posteriormente são utilizadas pelo nosso sistema de justiça.
Já do ponto de vista de mitigações, tem que existir um controle absoluto sobre os opioides. Atualmente, esta é uma das substâncias mais agressivas e que gera maior vício, assim como o Crack, que é um derivado da cocaína. No que diz respeito a outro tipo de estratégias, como a legalização de substâncias psicoativas, esta também pode ser uma medida a ser implementada no futuro, mas, neste caso, teria de existir um planeamento prévio porque a sociedade tem de estar preparada. Neste último tópico mencionado, do ponto de vista social, a não legalização pode causar mais problemas do que a legalização controlada. Obviamente que para se proceder a uma mudança destas é necessário um processo de investigação de 10 a 20 anos, métodos de análises às substâncias eficazes e o sistema de saúde tem de estar preparado do ponto de vista da área da psiquiatria e da psicologia. Dê-se como exemplo a condução. As drogas de rua alteram a perceção do espaço e do tempo, aumentando muito significativamente os acidentes rodoviários. Caso não existam formas de controlo, como existe para o álcool, a legalização originará um aumento de acidentes na estrada. Todos os aspetos da vida em sociedade que serão afetados pela legalização do consumo de substâncias psicoativas terão de ser pensados e legislados de forma adequada.
O aumento do consumo de novas substâncias psicoativas exige uma resposta informada de modo a proteger a saúde pública. Neste contexto, urge a necessidade de consciencializar a sociedade para os perigos inerentes a este tipo de substâncias, de modo a que possam não só tomar decisões ponderadas e bem informadas, mas também a criar uma maior empatia nas relações humanas, podendo reduzir o uso das mesmas. Através de uma abordagem multifacetada é possível encarar os desafios colocados por estas novas substâncias e salvaguardar a sociedade dos efeitos que as mesmas provocam.
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