A ideia de que a resposta para a crise de habitação se tem de concentrar em mais nova construção ignora que Portugal é o país europeu com maior número de casas por milhão de habitantes, o aumento dos custos de construção, a debilidade das construtoras desde a crise financeira e que o ponto de comparação são décadas em que se construiu muito acima da média europeia. A nova oferta irá para os segmentos mais lucrativos
Dos mais de dois mil comentários, pareceres e sugestões enviadas no processo de participação pública sobre as medidas do governo para a habitação, apenas 12% referiram o arrendamento coercivo para casas devolutas há mais de dois anos. Ao mesmo tempo, o licenciamento automático e sem visto prévio de projetos urbanísticos – uma das propostas que ninguém viu discutida no espaço público, por aparentemente ser consensual –, foi a única a ser adiada pelo Governo para a reconfigurar, tais foram as críticas da associação de municípios e de todas as ordens profissionais envolvidas. Esta disparidade gritante entre o debate especializado e a histeria caricatural da discussão política e mediática é mais um exemplo do enviesamento que tomou conta do espaço público quando há interesses económicos em jogo.
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