Austrália, Brasil, Coreia do Sul, Índia, Indonésia e Vietname na reunião do G7, em Hiroshima, para recordar os perigos da ameaça nuclear russa e ouvir como a China podia fazer mais e melhor pela paz e pela segurança económica. Visita de Roberta Metsola e manifestações pro europeias na Moldávia, onde a Rússia deseja contrariar a aproximação à Europa. O Ocidente, em geral (via G7), e a União Europeia, em particular, estão a tentar fazer amigos e influenciar políticos. Fazem bem. Precisam de fazer mais e melhor.
Um convite para participar no G7 é extraordinariamente simbólico e significativo. Nos tempos de Clinton e da fé na conversão democrática e capitalista da Rússia, Moscovo foi convidada a participar permanentemente no Grupo, que passou a ser o G8. É um dos melhores exemplos, mais um, de como o Ocidente tentou integrar a Rússia de Putin no mundo unipolar do pós-Guerra Fria. E foi por culpa própria que a Rússia saiu, em 2014, na sequência da invasão da Crimeia. Já depois da guerra russa da Geórgia. O que prova, se necessário fosse, que o problema nunca foi a expansão do Ocidente, que ofereceu à Rússia a normalidade e a partilha do espaço. O problema foi sempre a ambição não democrática, pacífica ou sequer integrada no direito internacional, da Rússia e de Putin. Qualquer outra interpretação da relação entre Moscovo e o Ocidente esbarra nesta realidade. Adiante.
Ao convidar os líderes do Brasil, Coreia do Sul, Índia, Indonésia e Vietname (e a Austrália, mas esses estão do mesmo lado), o Ocidente mostra que percebe, pelo menos em parte, onde está e estará o seu problema nos próximos tempos e como o deve tentar resolver. Fazendo amigos. Ou coisa que o valha.
A competição entre Ocidente e China e a disrupção provocada pela invasão russa da Ucrânia reforçaram o poder negocial das médias potências internacionais. Basta para isso não ser evidente para que lado cairão ou do que não estão dispostas a abdicar. A esse realismo, o Ocidente respondeu com outro tanto. Convidou a Índia, a Indonésia e o Brasil, por um lado, e convidou Zelensky, do outro, para que todos se pudessem encontrar. E aproveitou para explicar que a China podia, e devia, fazer a Rússia parar. Bastava Pequim querer. Lula não se convenceu, mas outros terão percebido.
Os líderes do Brasil, da Indonésia ou da Índia não são óptima gente e melhor companhia. Mas são os líderes de alguns dos maiores e mais importantes países do mundo. Se o Ocidente quer (e quer, porque precisa, pelo menos) que o agora chamado Sul Global não seja um adversário ou uma peça neutra, precisa de mostrar o que está disposto a dar, e de provar como os interesses da China estão desalinhados com os destes países. É por isso que é tão importante dizer, ali, na presença de Modi, Lula e outros líderes de países não ocidentais, que a China pode fazer a Rússia parar. Se quiser. Se estes países responsabilizam o Ocidente pela capacidade de a Ucrânia se defender, é preciso explicar que a China é responsável – no mínimo, por omissão, obviamente por ação – por a Rússia ser capaz de atacar.
Na mesma semana, Roberta Metsola, a presidente do Parlamento Europeu com faro político, ambição e excelente capacidade de perceber onde está o seu espaço de expansão política, foi a Chisnau dizer que a “Moldávia é Europa e a Europa é Moldávia” e foi recebida por milhares de pessoas entusiasmadas com a perspectiva de um dia entrarem na União Europeia. Um ano depois de ter recebido estatuto de país candidato, a Moldávia quer que as negociações de adesão comecem.
Entretanto, Bruxelas enviou uma missão civil, ao abrigo da Política Comum de Segurança e Defesa, para ajudar o país a resistir a eventuais ataques – como os que a Rússia é suspeita de ter feito recentemente, para desestabilizar o país e evitar a sua orientação para a Europa. É preciso evitar que a Moldávia tenha um destino semelhante ao da Ucrânia. Mas, ou porque, é evidente que a Rússia vê estes movimentos como uma ameaça às suas ambições de potência global e poder absoluto regional. Ambições ilegítimas e ameaçadoras tanto para os vizinhos como para a União Europeia.
Mas isto também aconteceu ao mesmo tempo que a Síria de Assad foi readmitida na Liga Árabe, com o acordo da Arábia Saudita e apesar do horror dos Estados Unidos e da União Europeia. Ou seja, e todas as outras considerações à parte, Riade mostra que tem mais aliados e mais com quem estar alinhada.
E, para fechar, tudo isto acontece quando a União Europeia discute estratégias para aceder a matérias primas essenciais à economia da transição energética. Muitas delas que se encontram em países do dito Sul Global.
A resposta europeia e ocidental a tudo isto tem de ser consistente e coerente: abertura, incentivos e, naturalmente, consequências.
A recomposição das relações de equilíbrio globais exige mais do Ocidente. A expectativa de adesão à União Europeia é um importante incentivo (que pode funcionar mal, como na Turquia), mas não pode nem consegue ser o único. O comércio internacional e a prosperidade económica dos nossos potenciais aliados tem de ser um objectivo nosso também. Por todas as razões. As boas e as motivadas também.
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