Memórias ao correr da pena, 25 anos depois de Lisboa ter vivido quatro meses e meio de festa à beira-rio que lhe deram inédita autoestima
Calhou irmos lá na primeira noite. Éramos grupeta adolescente, alguns com memórias de Sevilha anos antes, excitadíssimos com o que se anunciava para Lisboa. Apanhar a linha nova do metro. Sair na estação que parecia a nave do Alien ou um piso da Estrela da Morte. Descobrir à entrada do recinto a escultura “Homem-sol” de Jorge Vieira. Procurar cada um dos lugares que os jornais tinham descrito, cujos nomes incluíam Utopia, Realidade Virtual, cujos contornos eram os da pala do Siza, do cavername de um navio. A gare. A ponte. Abrir maravilhadas bocas que na volta a casa nos fariam rir e admitir: “Parecíamos uns parolos!”
É irónico lembrar a estreia. “Cheguem-se mais para o palco”, pedia a vocalista dos Diva numa Praça Sony ventosa e esparsamente povoada, onde em tantas noites haveria que pedir licença a um pé para mexer o outro. “Burritos, fajitas!”, gritava o empregado de um xiringuito à parca clientela, mais tarde tanta que faltariam víveres. O povo é capaz de ter estranhado a Expo antes de a entranhar, antes de na última noite ter sido preciso abrir os torniquetes para passarem hordas que incluíram o visitante dez milhões. Para já era tatear, ler a arrumação do espaço, ver a medo explodir vulcões onde em tardes de verão viríamos a molhar cansados pés.
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