19 maio 2023 1:58

O ativista indignado vasculha, nos vastos pequenos e médios assuntos, um motivo para se exercitar. Podem ser florões a representar as colónias, uma estátua de um Gil Eanes ou uma tirada de um cidadão que, por incúria ou espírito aventureiro, se esqueceu que vivemos no tempo das palavras proibidas
19 maio 2023 1:58
Recentemente, no grande léxico das ocupações artesanais, surgiram duas profissões interessantes: os ativistas e os indignados. No geral, misturam-se: os ativistas quase sempre estão indignados, e os indignados quase sempre se apresentam como ativistas. O mais extraordinário destas ocupações é que tanto uns como outros se indignam com coisas sem interesse, enquanto atuam sobre outras de quem têm desconhecimento profundo. Repare-se que não incluo nestas categorias os sindicalistas, membros de associações profissionais e patronais, ou associativos de que género forem, não só pela vetustez das suas instituições como pelo facto de — ainda que pouco compareçam, por vezes, nos locais de trabalho — perceberem do que falam, mesmo quando não têm razão.
O ativista indignado vasculha, nos vastos pequenos e médios assuntos, um motivo para se exercitar. Podem ser florões a representar as colónias, uma estátua de um Gil Eanes ou uma tirada de um cidadão que, por incúria ou espírito aventureiro, se esqueceu que vivemos no tempo das palavras proibidas. E esta semana encontrou um filão: a mistura da Igreja Católica, némesis destes paladinos, com os Descobrimentos, que como se sabe são a vergonha deste país. Até à sua chamada de atenção, vivíamos convictos de que os Descobrimentos tinham sido uma saga importante para o mundo e para Portugal; agora sabemos que são uma vergonha coletiva. Antes do Estado Novo e da subida de Salazar ao poder, pensaram os portugueses que os Descobrimentos eram motivo de orgulho.
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