5 maio 2023 0:56
1960-2023. Paulo Tunhas, um dos poucos intelectuais públicos em Portugal, morreu cedo e deixa um vazio enorme naqueles que por causa dele compreendiam tudo melhor
5 maio 2023 0:56
No poema do Larkin em que se pergunta para que servem os dias, a introdução à resposta parece ser um bocado ao lado: “Os dias são onde vivemos.” Primeiro há que definir que os dias são sítios onde estamos constrangidos a viver, embora haja constrangimentos piores, como aquele que lemos na parte final do poema. Os dias chegam e acordam-nos vezes sem conta, e, por fim, aparece a resposta otimista, resignada ou sábia para a sua utilidade: “Os dias servem para sermos felizes.” Para nos certificarmos de que isto é certo, que está longe de ser frívolo e que tudo pode ser sempre pior surge a pergunta: “Onde podemos viver a não ser nos dias?” Haverá outro sítio possível onde viver a não ser nos dias “que chegam e nos acordam repetidas vezes?” Pensar nesta questão só traz sarilhos, como “o padre ou o médico com os seus casacos compridos a correr pelos campos fora”. O poema não é um alerta, como não pode ser nenhum poema tão magnífico quanto este. Mas dá que pensar nos riscos de não vivermos nos dias. Afinal, quem quer ver o padre ou o médico a correr pelos campos fora, felizes certamente por viverem nos dias deles?
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