Opinião

Av. Barbosa du Bocage, nº 5, Chernobyl

5 maio 2023 0:02

O ministro das Infra-estruturas é claramente um produto que não dura muito tempo. Estraga-se com facilidade e é necessário substituí-lo periodicamente

5 maio 2023 0:02

Nessa altura mítica frequentemente referida em textos publicados na imprensa, que é “o momento em que escrevo”, João Galamba ainda é membro do Governo. Mas vou apostar que vai deixar de ser em breve, o que significa que, em quatro meses, Portugal teve dois ministros das Infra-estruturas — e é forçoso tirar conclusões desse facto. Há que admiti-lo: o ministro das Infra-estruturas é claramente um produto que não dura muito tempo. Estraga-se com facilidade e é necessário substituí-lo periodicamente. Isso coloca um problema ao país. Cada vez será mais difícil convencer alguém a ser ministro das Infra-estruturas. O ministro entra no gabinete, pega no dossier da TAP, a radiação emanada pelo dossier intoxica-o instantaneamente e, quatro meses depois, é-lhe declarado o óbito político e ele tem de sair. É improvável que António Costa consiga encontrar muita gente que não se importa de ir passar quatro meses a Chernobyl, que é onde ao que parece funciona agora o Ministério das Infra-estruturas. Talvez seja importante lembrar que o dossier, através de um processo invulgar, parece estar a intensificar a emissão de radioactividade. O ministro anterior levou mais tempo a apodrecer. Houve coisas que Pedro Nuno Santos tinha alegado não saber e que afinal eram conhecidas, e a demissão acabou por ser inevitável. Mas, agora, o dossier da TAP, além das mesmas confusões sobre o que o ministro sabia ou deixava de saber, passou a gerar também esse elemento politicamente fatal que é o ridículo. Talvez seja discutível se o ministro, afinal, convidou a CEO da TAP para a reunião preparatória, ao contrário do que vinha garantindo, mas não há dúvidas nenhumas de que o episódio que incluiu um pequeno delito envolvendo um computador e o arremesso de uma bicicleta contra uma janela do ministério entra no domínio da embaraçosa fantochada. Além disso, o caso ocorre já depois do questionário a que os membros do Governo iriam passar a responder, e que se destinava a estancar a existência de balbúrdias deste tipo. É evidente que é preciso acrescentar às 36 perguntas uma 37ª: “O sr./srª. tem tendência para se envolver em situações um bocado parvas?” É fundamental.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.